Constellation Asset Management: o trabalho de gerir ações brasileiras

No filme hollywoodiano “Nunca fui beijada”, a personagem da atriz Drew Barrymore é uma repórter que, para conhecer melhor a realidade da escola sobre a qual deve escrever um artigo, resolve frequentar as aulas, disfarçada de adolescente. O paulistano Marcello da Costa Silva, 31 anos, não precisou se disfarçar, mas já chegou a voltar a estudar com a estratégia de trocar entrevistas e estudo de dados pela experiência completa e prática dentro do universo analisado.

Ele é um dos sócios e portfólio manager da Constellation Asset Management, empresa criada em 2002 e que trabalha com a gestão de ações brasileiras. Grande parte da base de clientes é composta por investidores institucionais do Brasil, EUA e Europa e também por “family offices”, empresas que administram capital de famílias. Não há contato direto com as contas dos clientes – eles colocam o dinheiro a ser investido em um fundo, que é então gerido pela empresa de Marcello.

A Constellation tem investimentos em uma série de empresas e seu trabalho é decidir onde alocar o capital, visando ao retorno para os clientes. “Gastamos muito tempo para fazer uma análise completa do negócio até que chegamos ao diagnóstico e decidimos se vamos investir ou não”, afirma Marcello.

Pefil do profissional da Constellation

Foi justamente esse papel de investigador que levou Marcello à sala de aula (no caso, virtual), como no exemplo do filme no início da matéria. Ele e outros dois analistas se matricularam de fato em um curso de Educação a Distância (EaD), a fim de realmente conhecer o negócio no qual planejavam investir. “Essa experiência leva tudo a um outro nível, você pode virar para os executivos e dizer ‘olha, eu sei do que estou falando’”, explica.

Para formar um parecer sólido, é preciso ainda estabelecer uma ampla rede de contatos com a cadeia que gira em torno da empresa pesquisada. O universo inclui clientes, concorrentes e fornecedores, de modo a chegar a um diagnóstico preciso. Curiosidade, vontade de aprender coisas novas e de pesquisar são, portanto, características essenciais para quem pretender seguir na carreira. Responder qual a formação ideal para aqueles que têm tal desejo é algo que Marcello julga ser bastante difícil. O paulistano conhece pessoas extremamente competentes atuando no mercado e que fizeram a graduação em cursos díspares como Administração, Direito e Engenharia.

“Ser inteligente, falar inglês e estudar em uma universidade de ponta não garante nada. É preciso ter curiosidade para entender cada detalhe do negócio”, diz. Ter sido empreendedor em alguma fase da vida (mesmo que alcançando resultados insatisfatórios) e buscado leituras extracurriculares sobre investimentos contam pontos em uma entrevista para uma vaga de emprego. Para facilitar a vida dos novatos, um hábito que Marcello tem é sempre distribuir cartões de visita, de modo que estudantes ou jovens profissionais possam entrar em contato para tirar dúvidas ou pedir sugestões.

Trajetória de carreira

No caso de Marcello, pode contar com a ajuda e a influência de um tio que trabalha no mercado financeiro. Após pesquisas durante o ensino médio sobre qual graduação cursar, acabou entrando em Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no período diurno; e em Economia na Universidade de São Paulo (USP), durante a noite. Viveu um ano na Inglaterra, para aperfeiçoar o inglês e ganhar experiência de vida; e na Holanda, como parte do programa de intercâmbio da USP. Já formado, foi trainee do Itaú BBA – braço de atacado, tesouraria e investimentos institucionais do conglomerado. “Foi uma experiência ótima, tive certeza que o mercado financeiro era minha área”, conta.

Marcello entrou na Constellation em 2006, também como trainee. Aos poucos, foi subindo dentro da empresa, até virar um dos sócios. “A cultura da Const (como a empresa também é chamada) é acreditar na excelência. Pode ser clichê, mas é isso. Tem de ter atitude de dono. E eu sou prova viva disso”, exemplifica, acrescentando que os profissionais passam por avaliações cujos critérios são previamente apresentados, de modo a não pegar ninguém de surpresa. Nos últimos oito anos, a empresa triplicou o número de profissionais contratados.

Sobre o futuro do mercado nacional, Marcello enxerga um potencial enorme. Aos olhos do empresário, apesar de uma “taxa considerável de natalidade de novos fundos”, há também uma “alta taxa de mortalidade”. Muitos fundos pequenos cresceram de uma hora para outra e voltaram a encolher no ano seguinte. Ou seja: deram um passo maior do que a própria perna. “A gente busca ter um passivo certo, uma base de investidores que nos entende. É algo complexo. Leva-se tempo para que as decisões possam ser tomadas, mas os investidores entendem nossa estratégia. Isso é essencial para ter paz nas decisões”, afirma.

Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.

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