Liderança

Ouça Bernardinho falar sobre liderança, desenvolvimento e resiliência em podcast da Fundação Estudar

No dia 5 de agosto, a Fundação Estudar, da qual o Na Prática é uma das iniciativas, promoveu o evento Lidera Estudar, focado em fomentar debate de qualidade sobre liderança e desenvolvimento.

Em certo momento do evento, Bernardinho, ex-jogador e ex-técnico medalhista de vôlei, atual empreendedor, falou sobre ter resiliência e disciplina para alcançar objetivos, e trouxe elementos da sua trajetória para mostrar como se define um líder.

Confira sua palestra em formato de podcast ou leia a transcrição abaixo.

[Apresentador] Aqui no Brasil, o Bernardinho quase não precisa de uma apresentação. E não é à toa: ele é o maior campeão da história do vôlei brasileiro e maior medalhista olímpico do país. O ex-jogador conquistou mais de trinta títulos importantes nos 22 anos em que foi treinador das seleções feminina e masculina.

Hoje, Bernardinho atua como empresário e possui diversos empreendimentos de sucesso. Entre eles, a maior rede de academias da América Latina. Pois é, ele não entra para perder em nenhum campo…

Ele,  que é conhecido pelo seu estilo de liderança, firme e de tirar o melhor de cada jogador, falou sobre ter alto desempenho e exceder resultados no evento Lidera Estudar, promovido pela Fundação Estudar.

Na sequência, você confere a sua palestra completa. 

[Bernardinho] Vou contar um pouquinho de uma história que aconteceu em 1980. Eu estava na faculdade já, fiz Economia na PUC do Rio. Mas, enfim, o fato é que a minha geração, ela chega a, digamos, no voleibol mundial, na Olimpíada de Moscou – a maior parte de vocês não era nascido. A Olimpíada de Moscou foi em 1980. Nós ficamos em quinto lugar. Mas era uma geração promissora, mas eu confesso a vocês, o quinto lugar não me satisfez.

Eu era um reserva, um jogador, um backup, não era um jogador importante da geração, era apenas um atleta ali. Mas, naquele ano aconteceu um fato que para mim foi talvez o fato que mais tenha me inspirado, de uma certa forma, eu baseei uma filosofia, um modus operandi, uma forma de trabalhar, baseado nesse feito.

Tem uma história… As pessoas dizem que líderes são storytellers, as pessoas contam histórias. Eu quero contar essa história para vocês, história real, não é fictícia, embora a imagem que eu vá usar é de um filme, a história é real. Nos anos 80, as Olimpíadas de Inverno e de Verão aconteciam no mesmo ano, hoje é um intervalo de dois anos, elas são entremeadas. Em 1980, como disse a vocês, aconteceu a Olimpíada de Moscou, nós ficamos em quinto lugar, Olimpíada de Verão. E naquele mesmo ano aconteceriam as Olimpíadas de Inverno em Lake Placid, nos Estados Unidos.

Não sei se vocês sabem, mas havia uma tensão muito grande entre os Estados Unidos e União Soviética – voleibol também é cultura, vou falar um pouquinho de história. A União Soviética tinha acabado de invadir o Afeganistão. E o presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, resolve então boicotar as Olimpíadas. Os Estados Unidos não vão às Olimpíadas. Você imagina Olimpíadas sem Estados Unidos, sem os atletas de natação, do atletismo, perde muito o brilho, não é verdade? E alguns aliados próximos também não foram.

No final do ano, aconteceria, então, a Olimpíada de Inverno. O primeiro ministro da União Soviética chamava-se Brejnev. E ele diz: “nós iremos aos Estados Unidos provar a superioridade russa sobre os americanos – soviética, sobre os americanos. Ainda era a União Soviética nos anos 80. Em 1980. E aí, então, eles vão ao Lake Placid.

Se eu perguntar a vocês, qual é o esporte símbolo das Olimpíadas de Inverno? Hockey… Ski é meio individual… Hockey é time, nação, é uma bandeira, é uma coisa mais… Hockey, pô, agressividade, animosidade, aquela coisa da rivalidade, etc. e tal… Hockey. O curling é muito simpático, carregando a barrinha e tal, ski é espetacular e tal, mas o hockey, que tem uma coisa de time, de nação, de um contra o outro, nação, bandeira e tal.

Eu pergunto a vocês, vocês sabem quem dominava o sistema? Era a União Soviética. Quarta medalha de ouro consecutiva, enfim, uma série de vitórias. Imbatível a dois anos sem perder uma partida. Mas a federação de hockey americana, que sequer podia usar os profissionais da liga de hockey, eram só universitários. Os profissionais só foram aceitos em 1992, em Barcelona. Até então… Impossível ganhar com os universitários dos fenômenos russos. Mas eu observava, eu estudava. Como eu jogava pouco, eu era reserva, eu estudava muito. Então, ficava estudando, e tentava entender os porquês daquilo

E aquela experiência, para mim, ela mostrou uma série de coisas, que foram ditas aqui de uma forma teórica, com professores. A Angela, pesquisadora, professor Ram Charan, sobre talento, sobre time, etc. e tal. Essa experiência, chamada como milagre, milagre no gelo, se dá dessa maneira.

Então, a Federação de hockey contrata um treinador, um treinador que era um líder, um cara de visão, e que acreditava que havia uma forma de bater os soviéticos. Ou seja, desafiar o sistema e bater os soviéticos. Como disse o professor Ram Charan, não defendendo, mas atacando. Porque ninguém, até então, com receio da superioridade soviética, havia atacado os soviéticos. Mas, já viram um bloqueio de hockey? Quando tem uma jogada mais dura os caras se seguram e ficam se socando? Aquilo é, entre aspas, “legal”. Você não pode usar o bastão para bater no cara, mas você pode bater. Eu não sei quanto tempo dura, mas eles separam, e é suspenso e tal. Ok.

E aí, no treinamento, ele um cara muito duro – treinamento, treinamento, treinamento, não sei o que acontece, os treinadores são meio duros. E aí, ele viu o seguinte, nas jogadas mais ríspidas no treinamento, os jogadores da própria seleção se socavam. Imagina dois jogadores da seleção se socando? E eles deixavam rolar. E no final, ele perguntava, separava pra criar a questão da empatia, por quem você joga? E os jogadores: “eu jogo pela Universidade de Boston”, “eu jogo por Wisconsin”, “eu jogo por Minnesota”. E ele nunca tinha a resposta correta.

Ao meio das Olimpíadas, eles vão para a Europa.

[áudio ambiente de cena de filme]

[Bernardinho] Resolve, então, punir os jogadores. Punir depois daquilo e tentar uma reação deles. E ficam horas. O ginásio vai apagar a luz e eles continuam, continuam. E no final ele vai ter a reação que ele queria, pela primeira vez a resposta correta. Há duas versões iniciais, que se referem a coisas que foram ditas inicialmente. Eles vão conversar. Ele só apita e os caras vão, vão, vão…

[áudio ambiente de cena de filme]

[áudio de cena de filme] Think you can win on talent alone? Gentlemen, you don’t have enough talent to win on talent alone. 

[Bernardinho] Primeira. O único lugar em que o talento vem na frente do trabalho é no dicionário. Tem convicção de que não é só o talento, é o trabalho, e determinação. E eles seguem, seguem…

Segunda mensagem.

[áudio de cena de filme] You gotta think about something else each and every morning. When you put on that jersey, you represent yourself and your teammates, and the name on the front is a hell of a lot more important than the one in the back. Get that trough your head. Again. 

[Bernardinho] Uma hora e meia depois. Arrasados, eles continuam ali. Não tem negociação. De novo. Até que alguém vai reagir. De novo. Eu adoro isso. Again. 

O assistente quis negociar com ele. Falou pô, por favor, não tem.

[áudio de cena de filme] 

Quando ele vai apitar, o garoto gritou o nome dele. O garoto se tornou o capitão da seleção norte americana, na Olimpíada de Lake Placid. Ele fala de onde ele vem.

[áudio de cena de filme] We’re from Massachusetts.

[Bernardinho] Cidade e estado. E pela primeira vez o treinador tem a resposta que ele queria, que ele nunca tinha tido.

[áudio de cena de filme] Who do you play for?

I play for the United States of America. 

That’s all gentlemen. 

[Bernardinho] Essa é a primeira mensagem. Ou seja, lutavam por algo muito maior do que apenas uma partida de hockey. Para completar a história e o milagre que foi. feito, um mês depois jogam as Olimpíadas. Aos trancos e barrancos, chegam na semifinal contra a União Soviética. E o treinador vai fazer o último speach dele e diz para os jogadores: “grandes feitos advém de grandes oportunidades.” “Vamos jogar 10 vezes com os soviéticos, vamos perder 9, mas não hoje. Para hoje, nós treinamos.”

E eles começam atrás no jogo, empatam, perto do final, passam à frente, faltando 20 segundos. Naqueles segundos, o locutor está lá 19, 18, tal, 

put pra cá, put pra lá. E esse episódio fica conhecido como “miracle” porque a 5 segundos do final o locutor fala “do you believe in miracle?” Bam! Toca a sirene e acaba. Eles ganham dos soviéticos. Um dia depois, eles completam o milagre e se tornam campeões olímpicos.

E essa história que não era um time que tinha mais talento, nenhum desses jogadores se tornou um profissional de destaque. Era um time que trabalho determinação, grit, garra. E um líder de visão, que complementou essas pessoas em torno de uma causa, de um propósito, de provar que eram superiores e melhores do que as pessoas imaginavam.

A história desse rapaz é uma história muito interessante. Serginho veio da periferia de São Paulo, de Pirituba. Às vezes vou falar com o jovem e eles falam “professor, eu gosto muito dessa história, mas sua história não é igual a minha, você nasceu em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, seu pai, advogado, classe média, tal. Eu não tenho nada disso, eu não sei quem é meu pai.” Mas ele tem uma história igual de todos os outros, com dificuldade, mas ele teve oportunidade no esporte.

Recentemente voltei à universidade, queria estudar, fazer pós-graduação, mas me chamaram para dar aulas na PUC do Rio de Janeiro, tô na área de empreendedorismo, liderança para jovens empreendedores. Fazendo uma dinâmica recentemente com os jovens, perguntei no final o seguinte. Dinâmica de empresa, falei: “vocês têm um minuto para fazer um pitch pra mim.”

Primeiro, eles têm pavor de falar em público. Então, você treina oratória, treina falar. Imagina, você encontra um grande investidor, você tem lá uma startup, um negócio. Durante um minuto, você tem um minuto com ele no elevador para chamar a atenção dele e chamar ele pra você. Eu quero que vocês digam um ponto forte e um ponto fraco de vocês. Ponto forte: como vocês podem contribuir para nossa empresa. Segundo, ponto fraco, significa autoconhecimento, onde vocês têm que melhorar? 10:51 Os pontos fortes foram diversos: sou criativo, trabalho bem em equipe, tal. Mas os pontos fracos foram dois: 35 alunos tocaram em dois pontos. Primeiro, a falta de disciplina. “Eu não sou disciplinado. Procrastino, quando tem processo, é boring, é chato, ai não quero. Segundo, lido mal com frustrações.”

Querem tudo muito rápido. Não conseguiu a promoção, ele perde aquilo que seria o grit que ele tinha. Ah, não foi rapidamente. Ai ele “ah, desisto.” Portanto, querem uma ferramenta mais interessante do que esporte para desenvolver? Primeiro, disciplina. Sem disciplina, você não pratica em nível de nenhum tipo. Segundo, você lida com frustrações permanentemente. Recentemente fui saber que o Jorge Paulo perdeu para um boliviano no início de carreira. Eu soube. Mas você perde, você ganha, você perde de novo, ai você é cortado, ai você vai para o banco, você lida com frustrações permanentemente.

Esse rapaz venceu pela necessidade. O que o moveu foi a necessidade, dois pilares de motivação. Necessidade e paixão. Venceu pela necessidade. Olha que interessante a função dele dentro do time, ele é um líbero. Líbero não faz pontos, é backoffice, suporte. Foi eleito o melhor jogador do mundo em 2009 e 2016. Significa valorização de todas as funções.

E por último você está falando em um líder, líder pelo exemplo. A imagem que eu tenho dele é como se ele treinasse e jogasse como se estivesse correndo atrás de um prato de comida – literalmente, o voleibol deu a ele a condição de transformar a alimentação da sua família. E quando alguém a sua volta não dava 100%, ele ia pra dentro dos caras e cobrava. E eu adorava.

Ai eu fui para a universidade. Estudava economia e tal. E lá no Garantia tinha um diretor da minha área, eu era estagiário lá. Ele falou: “mas, Bernardinho, você vai ser do esporte ou você vai ser economista?” Porque eu adorava aquela história mas estudava, era bom aluno, tanto que ele me levou para fazer um estágio. Mas, enfim, o fato é que estudando, – que que Economia tem a ver com esporte? Liderança, estudo, informação, abriga todas as coisas que acontecem.

E eu me deparei com esse pensamento de [Peter] Drucker, que diz o seguinte: três coisas acontecem naturalmente em qualquer instituição, sem ninguém fazer força. Atritos, confusão e queda de desempenho. Para todo o resto, é necessário liderança. E eu vi que era uma forma de liderança, dentro do nosso esporte, dentro daquilo que era aquela empresa que eu tinha de alguma forma feito.

Na faculdade, eu pergunto assim para os jovens, na primeira aula: que características uma pessoa tem que ter para ser considerada um líder? E as respostas são diversas, mas na primeira aula, na primeira turma que eu ministrei um curso. Um rapaz vira e fala assim “não, ele tem que ser carismático”. E eu pensei comigo “todo 171 que eu conheço é carismático, né? Para enrolar a gente ele tem que ter um certo carisma. Mas o fato é que começaram, tal. Mas a mais importante e interessante foi integridade. Ou seja, ethos, integridade. Ou seja, como você desenvolve trust, confiança das pessoas, se você não confia nas pessoas por mais capazes que elas sejam?

Humildade. Tem que ter humildade de reconhecer que nós não conhecemos, conhecemos muito pouco. Há dois modos que eu tento manter on permanentemente. Um é o learning mode, vem pra cá e aprende, anota e tal, um. Segundo, é o crisis mode, a gente fala que aprende muito na crise. “A crise nos ensinou.” Por que a gente não vive permanentemente num estado quase que de crise? Ou seja, tentando entender, como se a crise estivesse ali. Não, agora abundância você relaxa, transgride, permite aí ser pego nas armadilhas do sucesso.

Vocês acordam todos os dias motivados para fazer aquilo que vocês querem e pretendem… Vão fazer todo dia? Bom, tem dia que não, né? O que nos move é a disciplina. Mesmo que naquele dia que não, você desenvolveu o hábito de tal forma, que você faz aquilo que naquele dia não está tão disposto a fazer. E aquilo te dá autoconfiança, te dá tal e tal, esses são os princípios fundamentais, disciplina, resiliência, trabalhar, seguir em frente, etc. e tal.

Uma das coisas mais interessantes, ao longo do tempo, que eu tenho visto sempre com mais preocupação, um grande rival na construção de um verdadeiro time, que nos afasta do propósito, são egos e vaidades fora de controle. Quando um cara começa a achar que ele é o cara.

Eu participo de um ou dois conselhos aqui e ali, etc. e tal. De modo geral, eu observo o comportamento das pessoas. E as decisões são tomadas de forma errada, equivocada, na maior parte das vezes, por causa dos seus egos. Ego é seu inimigo, ego is the enemy. O problema é que eles não estão lendo.

Eu descobri uma coisa importante, que, por exemplo, na minha atividade existe um elemento que alavanca, egos e vaidades, que alimenta tremendamente, que é a mídia. Já perguntaram “como é que você lida com as críticas?” E a mídia, ela faz o seguinte, ela tenta fazer você crer que você é melhor do que você é quando você ganha. “Bernardinho, ele grita mas ele faz!” Aí você fica grandão. Para depois tentar te fazer crer que você é pior do que você é quando você perdeu. “Bernardinho está muito destemperado, não vai conseguir nada assim.”

Vocês, que são bons em matemático, pergunto a vocês: qual a diferença entre o Midas e o destemperado? Dois pontos num tiebreak. Portanto, nada do que eles disserem, a gente vai perder o foco do dia seguinte, que é seguir aprendendo, ok? Seguir tentando, treinando, se capacitando, enfrentando os novos desafios.

Eu cheguei à seleção, a situação era essa: quinto colocado, queriam chegar ao topo, me deparo com uma situação macroeconômica favorável, eu tinha talento. Ou seja, o mercado estava favorável. Então, disciplina, planejamento, processo, tal, chegamos lá. Ganhamos, ganhamos, ganhamos. Sexto colocado, 2001. Dia 13 de junho de 2003, assumimos a liderança do ranking mundial. Chegamos lá. É mais difícil chegar lá ou se manter lá? Essa é a primeira questão que se coloca e depois de um ciclo de tantas vitórias. Lembre-se que o sucesso do passado, os resultados do passado, não te garantem nada no futuro – a não ser expectativas e responsabilidade.

Seguimos trabalhando, trabalhando, e quatro anos depois descobrimos o sinônimo da palavra quase. Quase é igual a não. Quase bati a meta, não bati a meta. Dois a zero contra a Rússia, dois a zero, nós perdemos. Um parênteses rápido. Eu passei meses estudando, tentando entender os porquês daquela derrota. Mas é uma classe muito especial de pessoas, uma casta muito especial, parentes próximos de Deus, chamados comentaristas. Em 15 minutos, descobriram o porquê daquela derrota. Mas, enfim, não era aquele porquê e eu tive que aprender.

Como você aprende com as derrotas? Com os percalços? Primeiro passo a ser dado, assumam responsabilidades. Assumam responsabilidades para que vocês possam realmente aprender e não perder pelas mesmas razões. Dezesseis anos depois, eu descobri que o vencedor era apenas o perdedor que tentou mais uma vez. Assumiu responsabilidades, manteve o learning mode on, seguiu em frente, não desistiu, não tocou o sino, que é a última lição de Mark Regan.

Nós vamos encontrar sinos na nossa caminhada. Tenho certeza, sinos direto. “Não aguento mais, vou desistir.” Nunca toquem o sino, se tocarem, vão se arrepender. Portanto, vamos seguir em frente, grit lá.

Em 2015, vou contar uma última história para vocês, eu tinha um questionamento. Fui questionado pelo capitão da equipe, que vinha a ser meu filho. Foi dura a entrada dele né? Vocês viram, ficaram com raiva de mim quando eu cortei o cara. Nepotista, autoritário, cortou o melhor para botar o filho dele e tal. Lembra disso? Vocês acham que se eu tivesse feito uma coisa tão injusta, incorreta, parcial, o restante da equipe teria continuado por tanto tempo?

Ali estava havendo o que eu chamo de transgressão de valores. Eu ouvi do Marcel uma vez a definição que para mim eu levo comigo sempre: um líder é o guardião de valores. Uma vez estava em reunião com ele, ele falou isso e eu guardei. E é assim, realmente é a maior verdade. Eu posso negociar o horário do treino, a cor da camisa, mas valores não são negociáveis. Isso não é um alinhamento de caráter. Alinhamento de valores significa que a cultura é diferente. Ele quer ter uma coisa individual, aqui é coletiva. Ele não quer treinar tanto, aqui o treinamento é extremo. Então, não estava alinhado com os nossos valores. Portanto, a gente tem que optar entre um desempenho a curto prazo, entrega a curto prazo, ou a cultura da empresa e eu optei pela cultura da empresa para poder chegar ao final, 16 anos, com êxito.

Mas em 2015, às 3h da manhã, batem no meu quarto na concentração. E entra e era o Bruno. E eu pensei às 3h da manhã, bate seu filho no quarto, você pensa “tá encrencado de grana, alguma coisa aconteceu”. E ele entra para falar do time. Ele falou: “cara, você tem que desenvolver uma forma de trabalhar, uma metodologia do trabalho, cobrança, desafio, desafio, cobrança” e tal. Mas essa é uma geração diferente, 16 anos depois era uma geração diferente. Como as gerações mudam e cada vez mais rapidamente. E ele disse, “se você não mudar a forma de lidar com essa geração, vamos continuar no quase, vice-campeões olímpicos. Precisamos voltar a subir mais um degrau.”

E aí ele me questionou e eu fui estudar, trabalhar, para tentar mudar a forma de lidar com aquela geração. Porque a primeira geração com a qual eu trabalhei, eu chamava “geração dos 300”, 300 espartanos. Literalmente, eles queriam sangue esportivamente falando. Ou seja, os caras encarnavam Leónidas e os espartanos. A nova geração era diferente. Não era melhor, não era pior, mas era diferente. Elas pensavam de formas diferentes, nós precisávamos de formas diferentes de estimular, motivar, dar feedback, àquela geração. Aprendizado, questionamentos permanentes – foi o que tentamos fazer.

Não existe uma forma mágica para liderança, existe uma forma de aperfeiçoamento permanente na busca de lidar, de tirar o melhor das pessoas, ao longo do tempo, conhecendo-as. E elas vão se mostrando de uma forma – para um dinossauro como eu – cada vez mais diversa, mas sempre rica e interessante para nos trazer aprendizados.

[Apresentador] Um obrigado a você, que acompanhou a gente até o final. Esse podcast é apresentado pela Fundação Estudar, o desenvolvimento é da Nathália Bustamante e a narração e edição são do Pedro Rodante. Um abraço e até a próxima. 

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