“Sou uma apaixonada pelo que faço”. Para Adriana Braghetta esta é, sem dúvida, a chave do seu sucesso na advocacia. Com mais de 20 anos de carreira, a sócia do escritório L.O.Baptista –SVMFA já foi considerada a advogada mais influente da América Latina na área de litígio, tendo recebido o America’s Women in Business Law Awards, concedido pela revista Benchmark em parceria com a EuroMoney, em Nova York, nos Estados Unidos.
Sua especialidade são as disputas que vão para arbitragem, sua grande área de interesse e de atuação. Ela dá aulas sobre o tema e já esteve à frente do Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBar). Na sua opinião, a arbitragem é uma área em ebulição do Brasil. “Cresceu imensamente e tem chamado muito a atenção dos jovens”, diz Adriana.
Em entrevista à EXAME.com ela falou sobre o prêmio, sobre a consolidação da arbitragem no Brasil, as áreas quentes do Direito, sobre a sua rotina e o maior desafio na carreira das mulheres. Confira:
Qual o segredo do seu sucesso?
Sou uma apaixonada pelo que eu faço. O segredo de uma boa carreira é você realmente ser apaixonado pelo que faz.
Como você descobriu a sua paixão no Direito?
Quando estava na faculdade, eu tinha duas grandes áreas de interesse: Litígios, que a gente, naquele momento, estudava dentro do processo civil, e a área de Direito internacional. Naquela época, me formei em 1993, o Mercosul ainda estava começando e a economia era fechada, não tinha internet e as viagens internacionais não eram tão frequentes. O direito internacional era um direito clássico em que se discutia conflito de lei.
Ainda não existia arbitragem no Brasil, mas quando tive aulas sobre este tema com o professor José Carlos de Magalhães, eu disse: “vou estudar isso, independentemente de isso se tornar uma realidade ou não”.
E então você decidiu prosseguir nesta área?
Quando me formei, fui fazer o mestrado já na área de arbitragem com viés internacional. E eu tive a grande sorte: fui agraciada porque a lei de arbitragem veio em 1996 ao encontro da minha paixão.
Adriana Braguetta [Divulgação]
Então você participou desde o início da arbitragem no Brasil?
Cada vez mais foi tomando corpo e eu participei desse movimento brasileiro de solidificação da arbitragem no Brasil. O que a gente vê nestes anos todos é justamente uma troca de informações entre o mundo todo. Vinte anos atrás você estudava o litígio de uma forma territorializada, porque só se pensava o litígio no Brasil.
Hoje em dia mudou muito o mundo, e eu tive a sorte de ver. Tinha esse interesse e pude ver que as novas gerações quando vão para a faculdade já estão tendo aula de arbitragem.
Hoje, a arbitragem é uma área promissora dentro do direito?
É uma área em ebulição no Brasil. Não que haja tantos litígios a ponto de ter mercado para milhares de advogados, mas digo isso porque tem chamado muito a atenção dos jovens porque é uma forma muito racional de solução de litígio, muito flexível, com respeito à autonomia da vontade das partes. Pode-se escolher o árbitro. Os jovens que estão tendo contato com esta área estão encantados. E há toda uma jurisprudência e doutrina internacionais para se estudar, o que é muito estimulante.
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Que outras áreas você destaca como as áreas quentes no Direito?
As áreas que estão em desenvolvimento são promissoras. Direito ambiental cresceu muito, os direitos humanos cresceram também. Saíram das áreas clássicas, são litígio, consultivo, tributário e trabalhista. E uma onda grande que está vindo é a área de mediação porque nós estamos com 90 milhões de litígios judicializados.
O Judiciário está assoberbado e precisa de respostas criativas para solucionar as disputas. Porque os litígios continuarão a vir, e é normal que venham. E a área de mediação está acontecendo hoje no Brasil. Estamos discutindo uma lei de mediação no Senado.
A regra de ouro para o profissional é se especializar? Não dá mais para ser generalista?
Esse é o dilema do estudante de Direito hoje. Porque também é muito importante você ter o conhecimento abrangente. Todas as grandes questões no direito envolvem facetas de outras áreas também. Você está com um grande caso e terá questões de direito tributário, trabalhista, consultivo, contratos, litígio.
Então é importante ter uma visão geral. E evidentemente precisa achar a sua área de interesse e se especializar. Mas é o grande paradoxo porque você tem conhecer o direito como um todo.
Se o interesse do jovem é se especializar em arbitragem, o que ele deve fazer?
As novas gerações encontram uma possibilidade de formação muito diferente. Uma iniciativa que surgiu e é extremamente interessante são os treinamentos. Tem o Vis Moot que é uma simulação de arbitragem internacional que ocorre em Viena.
Vão estudantes do mundo todo que se preparam durante 10 meses para defender um caso, geralmente em língua inglesa ou espanhola. Os estudantes apresentam o caso para diversos painéis de árbitros e disputam com outros estudantes. No ano passado tinham 233 faculdades e mais de 10 do Brasil. E o brasileiros têm ido muito bem.
E no Brasil tem algo parecido?
Tem uma instituição que faz o treinamento em português que a Câmara de Arbitragem Empresarial Brasil (Camarb). O estudante deve, dentro da faculdade, procurar um professor que o estimule e o ajude, como um coach faz.
Como é a sua rotina?
Muito corrida e diversificada. Sou preponderantemente advogada, mas dou aulas também. E o exercício de dar aulas é riquíssimo de reciclagem porque você se prepara para dar aula e ouve questionamentos dos mais diversos, isso refresca o pensamento. E até junho era presidente do Comitê Brasileiro de Arbitragem (CBar) que cuida do fomento e desenvolvimento da arbitragem no Brasil.
E como busca o equilíbrio entre vida pessoal e profissional?
Gosto muito de trabalhar, para mim não é um peso, em absoluto. Busco o equilíbrio fazendo esporte, eu jogo tênis. Mas, pra mim, o equilíbrio está em ter tempo de olhar o mundo que está ao meu redor. Ir às reuniões do CBar, ler artigos novos, ver o que vai ser tendência no Direito.
Qual o principal desafio para a carreira da mulher?
A fase de filhos pequenos é um grande desafio. Mas é também um desafio do empregador. Porque é uma fase que dura 2, 3 anos, por isso não dá ser imediatista. Aqui no escritório, todas as minhas sócias têm filhos, são mulheres extremamente capacitadas.
O mercado tem que olhar isso e os empregadores precisam criar mecanismos para reter estes talentos. Isso vai ajudar as mulheres a voltarem a ter filhos mais cedo sem que isso as prejudique no desenvolvimento da vida profissional.
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Este artigo foi originalmente publicado em EXAME.com