Empreendedorismo

“Sobra dinheiro para projeto bom”, diz cofundadora do Nubank

Quando recebeu o maior bônus de sua carreira, na época em que trabalhava no banco Itaú, Cristina Junqueira decidiu pedir demissão. “Estava pensando em como poderia maximizar meu impacto e como investiria os próximos cinco ou dez anos de minha carreira”, explicou em um painel sobre Empreendedorismo e Gestão Empresarial durante o Encontro Anual da Fundação Estudar, que aconteceu em 7 de agosto, em São Paulo.

Mesmo sem planos concretos, deixou o emprego. Dois meses depois, em maio de 2013, fundou o Nubank, a fintech mais famosa do Brasil, ao lado do colombiano David Vélez e do americano Edward Wible. Hoje, é sua VP de branding e business development.

Fundar uma empresa também significa criar uma cultura corporativa para ela, que tenha valores claros e respeitados, algo que estava em pauta desde o primeiro dia da fintech.

“Não existe cultura boa absoluta. Ou ela é boa para você ou não é boa para você”, garantiu Junqueira. Para ela, a harmonia entre o perfil do indivíduo e da empresa – o chamado fit cultural, quando os dois lados compartilham valores e estilos de trabalho – é chave para se encontrar e crescer no trabalho.

Pedro Drevon, CEO da Kraft Heinz no Brasil, concordou. Ele se lembrou de uma tabela que fez com os sócios da empresa, calculando quantos anos se passaram para cada um desde seu primeiro ano até o momento em que se tornaram sócios.

“Isso me deu uma dimensão do fit cultural [que tinham com a empresa]”, explicou ele, que se tornou o executivo mais importante da companhia no país quando tinha apenas 33 anos. “Aqui tem oportunidade de crescimento.”

Os negócios podem ser diferentes mas, tanto na fintech quanto na gigante do setor alimentício, sentimento de dono e protagonismo são atitudes fundamentais para crescer. Em ambos, as jornadas de trabalho também são intensas.

Daí a enorme importância do fit cultural e de se estar num lugar que combine com quem você é e como trabalha: tudo fica mais fácil. “Tem que ser o lugar mais agradável do mundo para se trabalhar”, resumiu Drevon.

Leia também: Pedro Drevon, CEO da Kraft Heinz no Brasil, conta em entrevista exclusiva como chegou lá

O que perguntam em entrevistas

Um obstáculo unânime entre startups brasileiras é a dificuldade para encontrar os profissionais certos, especialmente na área de tecnologia.

No Nubank, que hoje tem cerca de 500 pessoas de 25 nacionalidades (e está com vagas abertas), não é diferente: uma posição executiva de alto nível, por exemplo, levou quase um ano para ser preenchida.

“Continuar crescendo com esse nível de qualidade é muito difícil e o recrutamento é desafiador, mas é possível encontrar e formar as pessoas”, disse Junqueira. “Aqui fizemos uma empresa como as do Vale do Silício, mas brasileira e feita de brasileiros.”

Embora atue em outro setor, a Kraft Heinz também criou estratégias para atrair os melhores talentos: investiu pesado para estruturar seus programas de estágio, trainee e MBA, que hoje estão entre os mais disputados do país.

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“No fundo, a Kraft Heinz precisa atrair os mesmos talentos que o Nubank e oferecer uma proposta tão legal quanto”, falou Drevon, referenciando os pacotes de contratação da fintech que incluem participação acionária na empresa, uma prática típica de startups. “Precisamos trazer esse espírito de sociedade e esse é o desafio.”

A dupla também falou um pouco sobre o que busca em candidatos.

“Somos uma empresa feita por pessoas que, por algum motivo, se comportam como donas desde seu primeiro dia. Não fica reclamando porque alguém no financeiro não ajudou: ela vai lá e faz acontecer”, falou Drevon. 

Esse aspecto da resiliência frente aos desafios aparece em suas entrevistas de emprego, quando ele pergunta como o candidato chegou até ali e onde quer chegar. “Pergunto: se eu pudesse te dar qualquer cadeira da Kraft Heinz, onde você gostaria de estar em cinco anos? Quero medir essa ambição.”

Já Junqueira pergunta sobre as maiores conquistas e as maiores dificuldades. “Eu pergunto: qual foi a pior parada que você já enfrentou, aquela que nem sabia por onde começar? Isso mostra como a pessoa encontra caminhos e se tem mentalidade protagonista – no Nubank, ela está ali para fazer o que for preciso.”

Onde empreender, segundo a cofundadora do Nubank

Junqueira lembrou-se dos meses que se passaram antes que o Nubank recebesse o dinheiro dos primeiros investimentos, que vieram do exterior, e da dificuldade de encontrar investidores brasileiros dispostos a correr riscos altos.

São queixas comuns entre startups, negócios naturalmente ágeis e dinâmicos. Ao mesmo tempo, ela destacou que projetos de fato executados em alto nível conseguem sobreviver no país – e que a burocracia é difícil, mas não impossível.

“Sobra dinheiro para projeto bom. É questão de encontrar as possibilidades certas”, disse. Essas possibilidades, continuou, estão ao redor de todo cidadão brasileiro, todos os dias.

O Nubank, por exemplo, hoje avaliado em R$ 500 milhões, surgiu das experiências ruins de seus fundadores com bancos e das tarifas e juros altíssimos cobrados por cartões de crédito no país. “Pensamos: não é possível que inteligência e design não consigam resolver esse problema”, riu Junqueira.

A chave para empreender corretamente, continuou, é resolver problemas reais, que resultem em clientes reais, e não apenas aquilo que você gostaria de fazer. “Nós abordamos problemas de verdade. Dói muito para alguém? Então resolva. Trabalhe para seu cliente – e brasileiros são tão maltratados que há muitas oportunidades. Encontre uma e vá atrás.“

Leia também: Por dentro do Nubank: conheça os segredos da fintech mais comentada do país

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