A memória não falha. Até hoje, André Abram se lembra de quando trocou um salário de trainee de R$ 1117 na Siemens por um de R$ 600, mas no mercado de capitais. Era 1995 e a área era recente no Brasil, mas a troca logo se mostrou decisiva para ele, atualmente headhunter da Egon Zehnder. “Foi uma escolha emblemática”, resume. (E, eventualmente, lucrativa também.)
Sempre movido pela curiosidade, aceitou o desafio de entrar no mercado financeiro em Curitiba num tempo de incertezas e novidades. André pode acompanhar de perto a implementação do Plano Real e o crescimento da indústria, inclusive de coisas hoje consideradas fundamentais. “Derivativos, por exemplos, não eram aplicados na gestão financeira no Brasil, e isso que era muito legal”, lembra. “Eu preferia fazer algo que ainda não existia.”
Dono de dois diplomas, um de Administração pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e outro de Engenharia Mecânica pela CEFET, André tornou-se bolsista da Fundação Estudar quando estudou na Kellogg School of Business, nos EUA, onde obteve seu MBA.
“Estar num mercado inovador e fora de um centro como São Paulo ou Rio me deu exposição a investidores, grandes empresas e conselheiros”, lembra sobre a vida no Paraná. “Eu falava de assuntos desafiadores e temas novos, e aquilo me deu a autoconfiança para aprender que eu podia fazer coisas diferentes.”
Aos 26 anos, em 1999, decidiu-se pelo programa de dois anos da Kellogg, a escola de negócios da Universidade Northwestern, onde aprendeu sobre tecnologia, marketing e empreendimento, além de finanças.
No verão, acabou estagiando na consultoria McKinsey, em Londres. “Você queria estar lá naquela época”, ri. “Todo mundo queria falar com você, havia jantares maravilhosos, a guerra de talentos estava no auge. Foi uma maravilha!”
Ficou mais de sete anos na empresa, na filial brasileira. “Cheguei a trabalhar 110 horas numa semana e descobri que gostava daquela intensidade.”, diz. Além de exercitar sua capacidade de estruturar problemas de maneira analítica, André foi se especializando na indústria de serviços financeiros.
Em 2008, foi convidado a ocupar o posto de headhunter na empresa suíça, maior do mundo em seu segmento. “O insight de saber que headhunting tinha a ver comigo veio quando vim conhecer a empresa e o trabalho e vi que minha trajetória tinha me trazido até ali”, conta. Hoje, trabalha na divisão de CEO, Financial Services and Private Equity da companhia.
Basicamente, um headhunter é alguém que recruta executivos para posições “C level” (CEO, CFO, CMO, e outros cargos de alta liderança). André define sua função de maneira mais ilustrada. “Nós tomamos grandes decisões sobre pessoas”, diz. “É preciso entender o desafio do negócio e buscar a pessoa certa, que se encaixe nesse contexto e que seja capaz de trazer o desempenho que a companhia espera.”
Funciona da seguinte maneira: um cliente explica o que precisa, quais são as competências e habilidades necessárias e quais problemas o candidato precisará resolver. André então começa sua busca e leva, por fim, um ou dois candidatos à mesa. Para concluir, acompanha o processo de integração do contratado.
Para ter o quadro mais claro possível da situação antes de começar a trabalhar, André investe em relações de confiança com seus clientes. “Estabelecer-se como um conselheiro de confiança para essa hora da verdade com as empresas é algo que vem com o tempo.”
Outro ponto sensível é o sigilo. Em tempos de crise, a troca de pessoas em postos altos é mais comum e o mercado, mais competitivo. “Hoje, estou buscando vários presidentes de empresas numa situação em que o ocupante não sabe que está sendo trocado”, exemplifica.
Na hora de buscar a pessoa certa, André leva em conta o histórico do cliente e do setor e investiga os desafios pelos quais o candidato passou. A multidisciplinaridade da tarefa é uma das coisas que ele gosta: “Conhecer a economia como um todo e ler todos os cadernos do jornal é algo que tem muito valor nessa profissão.”
Como headhunter, André busca alguns pontos em comum ao avaliar executivos. No que ele é fantástico, seja uma competência como saber buscar resultados ou ter um conhecimento profundo de um mercado? Tem inteligência emocional, algo vital para comandar uma empresa? É capaz de refletir e aprender com as situações? “Eu espero que um executivo maduro se conheça”, resume.
Mas o que, afinal, faz de alguém um grande líder? ”É alguém que sonha grande, mas é capaz de implementar o que precisa ser implementado, que é capaz de dissecar problemas complexos mas também de engajar as pessoas”, explica. É mais fácil achar quem tenha spike – jargão usado para falar do principal ponto de destaque de alguém – que um candidato que equilibre todas essas dimensões.
Por isso, o maior sonho de André é empregar suas habilidades de enxergar a motivação e fortalezas dos outros para transformar a qualidade dos líderes no setor público. A Egon Zehnder também atende clientes do governo, algumas vezes pro bono, mas costuma esbarrar nas amarras políticas que envolvem o processo.
Ele ilustra seu ponto com uma história. No fim de 2015, foi chamado por um governador para ajudar na seleção para uma Secretaria de Estado. O processo terminou com uma nomeação política, mas deixou-o otimista mesmo assim. “Os líderes políticos sonham com isso e eu me surpreendi com a quantidade de gente boa no mercado que quer assumir um papel de impacto”, diz. “Eu vejo vontade, mas é preciso ter alinhamento e coragem.”
A tradução literal de Headhunter (Caçador de Cabeças) não contempla seu siginficado completamente. Na prática, a palavra significa Caçador de Talentos. Como é possível reparar, se trata de alguém capaz de encontrar pessoas competentes para ocupar cargos importantes no presente ou no futuro.
Se você se interessou pela profissão de headhunter, talvez ache interessante assistir a um filme sobre o tema). O filme homônimo Headhunters é uma ótima pedida para esse fim. Nele, acompanhamos a história de um caçador de talentos que comete crimes para manter uma vida luxuosa, mas esbarra em ex-mercenário ao tentar roubar uma pintura valiosa.
O filme, sem dúvidas, carrega uma série de esteriótipos sobre o profissional caça-talentos. Mas pode ser uma ótima opção para ilustrar alguém que atua nesse meio.
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