fundadores do aplicativo social hand talk

Em idos de 2008, ano em que surgiu o primeiro iPhone, Ronaldo Tenório engavetou uma boa ideia. Veio na primeira aula do curso de Comunicação Social na Faculdade Maurício de Nassau, em Maceió, que ele havia escolhido para substituir uma graduação em Ciência da Computação, e envolvia criar uma plataforma de tradução simultânea para Libras, a língua brasileira de sinais.

“Fiz o projeto, apresentei e acharam meio louco”, lembra. “Um dia eu consigo, pensei, mas não sabia quando nem como.” Quatro anos depois, já como app, surgia o Hand Talk.

Criar algo de impacto era importante para Ronaldo, hoje CEO da startup aos 31 anos. Ele não tem ninguém com deficiência na família, mas ficava tocado com a ideia de uma comunidade de 10 milhões de ‘estrangeiros’ vivendo em seu próprio país. “Surdos têm muita dificuldade de comunicação com ouvintes e 70% deles não conhecem o português perfeitamente”, explica.

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O alagoano co-fundou a Hand  Talk com outros dois sócios, o desenvolvedor Carlos Wanderlan e o arquiteto Tadeu Luz, especialista em efeitos especiais e criador do Hugo, o personagem em 3D que faz os sinais. A ferramenta gratuita é tanto dicionário quanto tradutor móvel e converte textos e áudios para Libras.

Desde sua criação, o aplicativo vem colecionando medalhas, como o prêmio de melhor app social do mundo segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Prêmio Empreendedor Social de Futuro da Folha de São Paulo e uma vaga na disputada aceleradora do Google, a Launchpad Accelerator.

Em 2016, ano em que a companhia viu um crescimento de 100% em relação a 2015, Ronaldo foi o único latino americano na lista dos 35 jovens mais inovadores do mundo do Massachussetts Institute of Technology (MIT).

Atualmente, a equipe soma 10 pessoas e contabiliza mais de 1 milhão de downloads.

Hand Talk - Empreendedorismo Social [Foto: AgênciaNaLata]

A história por trás do Hand Talk

Após ganharem uma competição de startups em Alagoas em 2012, a empreitada deixou de ser um projeto noturno paralelo e, aos poucos, o trio de fundadores foi se desligando de seus outros empregos para se dedicar integralmente à iniciativa.

“Antes do prêmio eu tinha minhas dúvidas, mas ele foi essencial”, lembra. “Esse primeiro investimento criou em nós a responsabilidade de tornar aquilo real: tínhamos uma pedra preciosa nas mãos e só faltava lapidar.”

Quando começaram a delinear os planos e validar a ideia com surdos e seus familiares, o grupo percebeu que montante de trabalho era muito maior do que imaginava. “Se nem a maior empresa de tecnologia do mundo estava fazendo isso com o Google Translate…”, ri.

Sempre estiveram atentos, no entanto, ao enorme potencial de impacto. O Hand Talk se encaixa no segmento de tecnologia assistiva, em que ficam as tecnologias que contribuem para oferecer ou ampliar as habilidades de pessoas com deficiência. Nesse caso, auxiliar com uma solução prática, fácil e gratuita os milhões de brasileiros que não escutam.

Um primeiro grande desafio foi alinhar uma língua visual ao software de tradução: gestos, expressões faciais e corporais são indissociáveis da comunicação eficaz em Libras. Outro foi a expectativa crescente da comunidade de surdos, que percebeu depressa que aquilo podia mudar a forma com que se relacionavam uns com os outros.

Além dos percalços habituais de programação e desenvolvimento de uma interface complexa, ainda havia a pressão para que o Hand Talk aparecesse logo e realmente cumprisse sua promessa.

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O primeiro ponto foi a escolha do Hugo, o intérprete visual. “Queríamos uma figura simpática, que ia passar o dia todo no bolso das pessoas”, resume Ronaldo. A partir daí, começaram a incluir o vocabulário, com três mil sinais iniciais. Hoje, o software se aprimora de maneira parecida com o Google Translate, usando como base as mais de 100 milhões de traduções que já foram feitas.

Em 2013, o Hand Talk foi selecionado para participar do programa de aceleração da Artemísia. Fizeram as malas em Alagoas e viajaram pelo país, entrando em contato com mentores e empreendedores e afinando o conceito de seu negócio social.

Quando o app finalmente chegou ao mercado, naquele mesmo ano, se tornou um sucesso de primeira. Com o tempo, acabou ganhando também uma função educativa, a Hugo Ensina, que ensina Libras aos ouvintes.

Ronaldo conta com gosto dos depoimentos diários de agradecimento: “Foi uma inovação disruptiva para eles, da simples ação de pedir uma água até algo envolvendo educação na sala de aula”.

Expansão internacional

Sempre gratuito para o usuário individual, faturamento da Hand Talk vem de trabalhos corporativos e para o setor público, como plugins de tradução que já são utilizados em mais de cinco mil sites e custam R$ 49 por mês – entre os clientes, há Avon, Natura, Magazine Luiza e o Comitê Olímpico Brasileiro – e a criação de totens acessíveis com a figura do Hugo, que hoje podem ser encontrados tanto em shopping centers brasileiros quanto em postos do Poupatempo no estado de São Paulo.

“Temos sorte de estar em um mercado em ascensão, tanto tecnologicamente quanto em relação às leis de acessibilidade”, fala o cofundador. “Essas empresas passam a falar com um público que queria se comunicar, que consome e que não tinha uma ferramenta para isso.”

Hand Talk - Empreendedorismo Social

E se a demanda por um produto inovador existe no Brasil, pode existir em outros lugares também. Como qualquer idioma, a língua de sinais não é universal – são cerca de 200 –, e há pelo mundo 360 milhões de surdos que poderiam se beneficiar de uma tecnologia como essa.

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Após conversas com partes interessadas de diversos outros países, a Hand Talk decidiu investir nos EUA, que conta com uma comunidade de quase 30 milhões de surdos e onde se pratica a American Sign Language (ASL). Agora, o grupo planeja uma nova rodada de investimentos para trabalhar a questão da internacionalização.

“O que me deixa mais feliz é que fomos lá e fizemos algo que achavam difícil, construímos um legado e uma solução global”, resume Ronaldo, que quer que outros empreendedores tirem suas ideias improváveis do armário. “Queremos servir de inspiração para que as pessoas criem algo relevante, porque a diferença entre ter a ideia e faze-la acontecer é grande.”

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