Bandeira brasileira no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista

Por Michele Loureiro

2017 já está perto do fim e os indicadores econômicos começam a melhorar — mesmo em meio à crise política, que continua. Já se vislumbra uma recuperação, ainda que gradual, calcada em fatores como a queda da inflação, o retorno de acesso ao crédito e o controle do desemprego.

“Ainda que não seja possível prever o resultado, a expectativa de retomada é uma unanimidade e as empresas começam a tirar alguns projetos da gaveta, o que deve trazer um impacto positivo ao cenário de contratações”, diz Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half no Brasil, de São Paulo.

Os primeiros sinais dessa tendência já foram  sentidos neste ano. No último trimestre, o número de vagas trabalhadas pela empresa de recrutamento Robert Half, cresceu 17,7% em relação ao mesmo período de 2016 — um avanço expressivo.

Mesmo assim, quem busca uma oportunidade precisa ter paciência, já que cerca de 70% dos processos seletivos têm durado pelo menos dois meses. A escolha meticulosa é fruto da grande oferta de profissionais e, em alguns casos, reflete a falta de qualificação da mão de obra disponível. O domínio do inglês, por exemplo, continua sendo um dos grandes limitadores para contratações.

Enquanto há alguns anos vivíamos a expectativa de uma Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos em solo nacional para movimentar a economia, agora o país aguarda a definição do quadro político, com as eleições de 2018, e o impacto que as privatizações e as reformas da CLT e da Previdência terão sobre o mercado de trabalho.

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“Setores como óleo e gás e indústria automotiva podem ajudar na retomada. Obras de infraestrutura e o agronegócio devem ser a base da recuperação”, afirma Fernando.

Confira os setores e as carreiras que estarão em alta no ano que vem:

Jurídico

Além das leis

A atitude empreendedora é uma competência bastante procurada atualmente entre os advogados. “Cada vez mais as empresas buscam profissionais de direito envolvidos na questão comercial e não só com domínio em legislação”, diz Maria Eduarda Silveira, gerente de negócios da Robert Half.

Por causa da crise econômica e política, as áreas de contencioso e de recuperação judicial geraram bastante trabalho, mas, agora, assuntos empresariais (como direito societário, fusões e aquisições, e contratos) voltaram a ganhar espaço, especialmente em setores como agronegócio, saúde, serviços e bens de consumo.

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Advogados da área tributária estão sendo demandados tanto no contencioso quanto no consultivo, e o compliance jurídico segue em alta.

Compreender o negócio e entender como sua área gera valor para a companhia aparecem como diferenciais de contratação.

“A estabilidade também é levada em conta. Muitas mudanças de emprego num período curto de tempo passam a impressão de desinteresse”, diz Maria Eduarda.

Simplificação de processos

Formado em computação e marketing, com mais de uma década de experiência em engenharia de soft­ware, Marcelo Toledo, de 36 anos, já percebeu a retomada da economia no mercado de tecnologia. Nos últimos cinco meses, ele foi assediado por cinco headhunters — alguns com propostas salariais bem maiores do que ele esperava.

De olho no mercado de startups, ele optou pela proposta do Nubank, em São Paulo, e assumiu o cargo de diretor de engenharia de software.

Sua missão é ajudar a fintech na implementação de metodologias ágeis de programação e processos. “A tendência de simplificar está em alta para acelerar a tomada de decisão, e esse trabalho me inspira”, afirma.

Mesmo assim, foram quase três meses até a conclusão do processo seletivo. “Fiz a escolha com base no propósito, visão e cultura da empresa. O desafio me motivou a fazer esse movimento de carreira”, diz.

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Tecnologia

Análise profunda

O big data é hoje uma ferramenta crucial para a tomada de decisões empresariais, razão pela qual profissionais com conhecimentos em análise de dados, ainda escassos, estão muito valorizados. Ao lado deles, os especialistas em segurança da informação estão no topo da lista dos mais requisitados.

Há demanda em empresas de todos os portes, desde as grandes companhias que passam por uma transformação digital até as startups.

“As organizações não tratam tecnologia como custo, mas como investimento. Por isso, a área é promissora”, diz Mariana Horno, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.

Nas startups, também estão aquecidas as vagas para desenvolvedores, sobretudo para ambientes iOS e Android, que consigam implementar metodologias ágeis. Além de domínio técnico, entre os diferenciais para uma posição na área estão perfil analítico e bom relacionamento interpessoal.

“Aquele estereótipo de especialista em tecnologia que mal fala com a equipe não tem mais espaço nas empresas, que buscam integração entre as áreas”, diz Mariana.

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Seguros

Suporte às grandes obras

Desde 2014, com a entrada em vigor da Lei Anticorrupção, que pune empresas envolvidas em práticas ilícitas, as seguradoras estão se adaptando a procedimentos mais rigorosos, o que intensifica a procura por profissionais com perfil técnico.

“As companhias estão sedentas por pessoas­ com boa formação acadêmica”, diz Ana Carla Guimarães, gerente de recrutamento da Robert Half. Além disso, a previsão de uma retomada gradual de grandes obras de infraestrutura faz com que surjam posições para especialistas em avaliação de riscos de engenharia.

Muitos fundos de investimento também estão criando as próprias corretoras de seguros. Para se sobressair, além de uma boa formação, o profissional ideal deve ter jogo de cintura, boa comunicação e visão estratégica.

Engenharia

Foco na eficiência

Depois de alguns anos fortemente impactada pela crise, a indústria, responsável por empregar muitos engenheiros, começa a dar sinais de retomada.

De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em agosto de 2017, a geração de vagas ficou estável em comparação com o mês anterior, o que não acontecia desde 2015. No ano que vem, a expectativa da Robert Half é que essa melhora continue, principalmente nos segmentos automotivo, médico, químico e de bens de consumo.

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O perfil do profissional demandado pelo setor acompanha a tendência dos últimos anos — pessoas que, além de habilidades técnicas, tenham um olhar analítico e comercial. “Valorizam-se habilidades de relacionamento e conhecimento do negócio como um todo”, diz Isis Borge, gerente de recrutamento da Robert Half.

A maior parte das posições é para as áreas de melhoria contínua, produção, manutenção, comercial e logística. Os cargos ligados ao planejamento se destacam por terem impacto direto na eficiência e no custo da operação.

Mercado financeiro

Avaliação de risco e atenção ao cliente

Apesar de muito depender dos rumos da economia, e mesmo diante de algumas incertezas, as contratações no mercado financeiro têm dado uma guinada nos últimos meses.

Ainda há rescaldos da Operação Lava-Jato, o que mantém em evidência perfis com conhecimentos em exigências regulatórias e altamente técnicos para atuar na área de compliance.

O temor da inadimplência nas operações de crédito também aumenta a demanda por profissionais especializados em avaliação de risco. Mas, com mais negócios em andamento, inclusive fusões e aquisições, os recrutadores procuram gente com experiência em análises financeiras profundas e operações de reestruturação.

A fluência em inglês é fundamental para tocar operações internacionais e relatórios globais.

Com as plataformas digitais em alta, habilidades em experiência do usuário (UX) e inovação, essenciais para atrair e reter consumidores, estão valorizadas.

“Pessoas capazes de entender o cliente e suas necessidades estão no topo das prioridades. As companhias buscam profissionais hábeis em desburocratizar processos”, diz Ana Carla Guimarães, gerente de recrutamento da Robert Half. Isso cria oportunidades nas fintechs, empresas de meios de pagamento e plataformas de investimento.

Finanças e contabilidade

Planejamento estratégico

Os profissionais de finanças tiveram um papel importante nos tempos difíceis: ajudar as companhias a enfrentar o momento desafiador — a ordem era, basicamente, a de corte de custos.

Porém, com a retomada gradual da economia, começa a mudar o perfil das contratações.

“Nos últimos meses já foi possível notar a procura por pessoas voltadas para projetos e investimentos em áreas como relação com investidores e fusões e aquisições”, diz Danylo Hayakawa, gerente da Robert Half. Mas o desafio dos recrutadores é encontrar gente qualificada.

Uma pesquisa da consultoria com 100 diretores de finanças brasileiros aponta que 55% das empresas têm dificuldade para contratar — e o problema está não só nas competências técnicas, mas também nas comportamentais, como resiliência e flexibilidade.

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Entre as áreas em alta, destaca-se ainda a de compliance, que cresce na onda da preo­cupação das empresas com escândalos de corrupção, com oportunidades para especialistas em controladoria, contabilidade e impostos, capazes de identificar desvios e fraudes.

“As companhias, cada vez mais, estão criando o departamento de compliance internamente, e buscam profissionais com experiência na área financeira que entendam de legislação e aumentem a confiabilidade das informações”, afirma Saulo Ferreira, gerente de recrutamento da Robert Half.

Vendas e marketing

Unidos venceremos

A área de vendas nunca sai dos holofotes. Na bonança, é pressionada para atingir metas agressivas. Na crise, é hora de buscar receitas alternativas. “Há demanda em todos os níveis, desde o vendedor porta a porta até o diretor comercial”, diz Carolina Cabral, gerente de recrutamento da Robert Half.

O perfil de hunting, ou “caça” de novos negócios, está em alta. Mas também é preciso ter conhecimento técnico e se atualizar, porque a área muda muito. Outra competência é saber se integrar à área de marketing — e vice-versa. Com a mudança de perfil do consumidor (mais crítico e digital), o pessoal de ­marketing tem a missão de ajudar a área comercial.

“Conhecimentos em redes sociais e em ferramentas de SEO [Search Engine Optimization] são valorizados”, diz Carolina.

Posições em marketing digital, inteligência de mercado e marketing de produto também crescem, especialmente nos setores de bens de consumo e tecnologia.

Novos ares

A paulistana Paula Motooka, de 34 anos, fez a transição para a área comercial há sete anos. engenheira química, ela trabalhava no departamento de qualidade quando seus chefes notaram seu perfil para vendas. Estimulada por eles, Paula passou a atuar como executiva desse setor em uma multinacional sueca.

Em abril deste ano, percebeu que o mercado estava se aquecendo e que havia chance de mudar de empresa. “Atualizei meu currículo, pois notei que as companhias estão desengavetando projetos e há boas oportunidades”, diz.

A percepção estava correta: em outubro, Paula foi admitida como executiva de vendas da alemã Bruker, em São Paulo. “o inglês, o espanhol e a habilidade de contextualizar minha atividade com as demais áreas contaram a meu favor”, afirma.

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Artigo originalmente publicado no portal EXAME.com

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