guga entrevistando jorge paulo lemann

“A nossa real capacidade está muito longe do que a gente consegue enxergar”. Foi assim que terminou a palestra do Guga no Day 1, evento promovido pela Endeavor. Gustavo Kuerten, um atleta que mudou a visão do tênis para muitos brasileiros, tricampeão de Roland Garros e primeiro no Ranking Mundial por 43 semanas, em 20 minutos contou um pouco da sua história, de forma simples e cativante.

Durante a palestra, vários momentos me chamaram a atenção, onde percebi o quanto os desafios do atleta – e principalmente a necessidade de performar – têm relação com os desafios e as necessidades dos empreendedores e executivos atualmente.

Integrar razão com a emoção frente a um desafio, criar uma mistura equilibrada dos dois, lidar com o stress, utilizar o máximo do seu potencial e aprender sobre si mesmo com o que aconteceu, são fatores que impactam muito nos resultados de líderes que buscam a alta performance. Muito do que o Guga contou que aconteceu com ele, pode ser explicado baseado em alguns conceitos que utilizamos em nossos treinamentos e processos de coaching.

De acordo com a minha percepção, baseado nas experiências contadas pelo tricampeão de Roland Garros, gostaria de compartilhar um pouquinho do que vejo dessa relação do esporte com o mundo corporativo:

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1. Necessidade de Certeza

Entramos em um ciclo de sucesso ou de fracasso comandados por convicções que temos sobre algo. Quando não acreditamos em alguma coisa, nossas ações passam a ser pequenas e, mesmo que tenhamos muito potencial, não agimos, presos à crença de que não vai funcionar, pelo simples fato de não acreditarmos naquilo. Com isso, conseguimos o resultado que acreditamos e, desta forma, confirmamos a nossa crença. Como se fosse uma profecia autorrealizável.

Vamos para o exemplo da crise: se eu acredito que a crise será forte, eu começo a ficar com receio, começo a evitar ações que poderiam me levar a melhores resultados e, com isso, tenho resultados proporcionais às ações que não tomei ou que tomei para me proteger. Isso me leva a confirmar: “é, a crise tá forte!” E o ciclo retorna.

Esse ciclo de fracasso se transforma em ciclo de sucesso quando eu mudo a minha convicção, o meu senso de certeza. Guga fala disso em vários momentos, principalmente no jogo com o Kafelnikov na final de Roland Garros em 2007. Ele disse, “o cara era imbatível para mim. Foi o único jogo que eu entrei em quadra e sabia que ia perder. Eu tinha certeza absoluta. Somente no meio do jogo que eu fui entender que dava para vencer o Kafelnikov. Naquele dia, eu saí de quadra seguro que ia ganhar Roland Garros. A partir dessa vitória, eu tinha certeza que eu ia ser campeão.”

Nesse momento, Guga mostra exatamente a hora da mudança do ciclo de fracasso para o ciclo de sucesso, ponto exato da transformação do Modelo Mental. E um fator fundamental para isso, foi o papel do seu coach, Larri Passos, que durante o aquecimento estava junto com ele, como parceiro, e que com a sua certeza e apoio inabaláveis, falava com convicção de que Guga iria ganhar. Essa atitude de Larri fez o Guga ficar na dúvida, a ponto de balançar a própria crença (aquela de que não seria capaz de ganhar!) chegando a pensar: “será que ele acredita mesmo que eu vou ganhar do Kafelnikov?” Depois, Guga entendeu algo que o Larri falava muito: a importância da convicção.

Trazendo para o funcionamento humano, a convicção sobre nós mesmos nos dá a certeza e a confiança que precisamos para desempenhar em nosso máximo potencial. O medo do fracasso, de não ser suficiente frente à pressão por resultados, cresce à medida que ganhamos novos desafios e novas responsabilidades. É o vilão que fica escondido em nosso inconsciente, que nos leva a reagir em alguns momentos de uma forma que não propicia bons resultados. Muitas vezes passamos a perceber o desafio como algo enorme e passamos a duvidar da nossa capacidade.

Dica: Não estar sozinho, ter alguém do seu lado – um coach, um mentor – é fundamental, pois em alguns momentos você poderá duvidar de você mesmo, principalmente quando o desafio ficar maior e a pressão aumentar. O medo de perder, a dúvida, a falta de concentração e o stress, passam a ser o nosso maior oponente, pois geram uma voz interior que rouba a nossa energia e resulta em diminuição da nossa performance. Grandes atletas, assim como executivos de alta performance, treinam silenciar a mente em momentos de pressão. Com isso diminuem o stress, impactando diretamente os resultados.

2. Performance = Potencial – Interferência

A fórmula simples e profunda criada por Tim Gallwey, o “pai do coaching”, nos anos 70, tem ajudado muitos atletas e executivos de ponta a atingirem o seu máximo potencial até hoje.

A interferência é a voz interior que tira o silêncio da nossa mente, tira a nossa concentração e nos desgasta. Guga relata isso na final pela conquista do bicampeonato, com Magnus Norman, onde ele já era um dos favoritos. Em determinado momento, achou que já havia ganho o jogo e o campeonato, mas não foi bem assim. Aos 9 minutos da palestra, Guga conta que foram quase 50 minutos de jogo interior, de interferência interna, o que ele chamou de loucura: “sou o campeão do mundo… Sou horrível e não vou ganhar nada… De um lado para o outro, uma montanha russa.”

Quando fazemos algo que entendemos ser errado, iniciamos um processo de julgamento das nossas próprias habilidades e muitas vezes da nossa própria capacidade, e criamos uma profecia autorrealizável que passa a ser um dos nossos maiores sabotadores. Uma bola fora pode levar a gente a pensar que foi errado, uma segunda bola fora pode levar ao pensamento de que tudo está dando errado hoje, e várias bolas fora, podem fazer você se sentir horrível. ”Sou horrível… Não sou capaz… Eu não consigo fazer isso…”. O acúmulo de vozes internas rapidamente elimina qualquer chance de bom desempenho, pois tira o nosso sono e nos mantém sob o domínio da preocupação.

O aumento da performance vem de um processo de tomada de consciência do seu potencial e do que está gerando interferência interna – isso gera mais confiança e nos leva a fazer melhores escolhas.

Nesse processo, o coach treina o executivo a aumentar a percepção sobre si mesmo, prestando mais atenção no que acontece com ele no dia a dia, nas situações e espaço que ele ocupa, levando, como consequência, a uma melhora significante nos resultados.

3. Necessidade de significância

Guga comenta: “A primeira vez que a gente ganha, eu digo que foi sem querer. Ganhar a segunda vez foi mais difícil, pois tinha o peso da comprovação, para mostrar que não tinha sido sem querer”.

Isso faz lembrar uma frase do Bernardinho, que diz que mais difícil do que chegar no topo é se manter no topo. A necessidade de significância está ligada a um medo que todo ser humano tem e que carregamos desde criança, o medo da rejeição. Buscamos ser aceitos pelas pessoas e o sucesso – já ser campeão, ser promovido, mudar de cargo, se tornar Líder – gera mais pressão para isso, pois traz junto o medo do fracasso, que altera a nossa necessidade de certeza que falamos acima. Isso ativa o nosso jogo interior e nos coloca pressão para acertar em tudo.

Guga relata isso aos 15 min: “são tantas as decisões durante uma partida, lidar com a torcida, com jornalistas, com a expectativa, não dá para parar e analisar. Tem que decidir a cada milésimo de segundos. Aqui não dá para parar.”

Dica: No mundo organizacional, temos um ponto a nosso favor: embora não pareça, dá para parar. Em nosso dia a dia, seja para chegar ao topo ou se manter no topo, corremos o risco de entrar no piloto automático e ser dominado pelo jogo interior, e nesse momento é importante fazer um STOP. Normalmente paramos só para planejar. Desenvolver a capacidade de parar para tomar consciência de si, dos meus Modelos Mentais e do que está acontecendo ao meu redor, passa a ser fator fundamental de sucesso ou de fracasso. E se dizemos “mas eu não posso parar agora”, isso pode ser um sinal de que já estamos no piloto automático. Quando achamos que não podemos parar, significa que já passamos da hora de parar. E a parada se torna mais do que necessária, ela passa a ser a diferença para alta performance, para o alto rendimento. Como um carro de formula 1 que precisa de um ou mais pit stops em cada corrida.

4. A força de um propósito

Aos 16 min, Guga conta que no início de sua carreira, não tinha onde treinar e eles foram lá e construíram uma quadra. Quando não temos clareza do propósito, qualquer obstáculo nos impede de continuar e desistir passa a ser uma opção. O propósito nos dá direcionamento e consequentemente foco, força e motivação para seguir em frente.

Isso nos faz criar opções e novas possibilidades de como realizar o que desejamos, quando o propósito é forte, temos energia para buscar formas e alternativas para continuar, tudo para nos manter firmes e não desistir. Um proposito é algo maior do que um objetivo, ele não é realizável e sim vivido, no dia a dia. É a razão pela qual fazemos algo, é algo que nos alimenta diariamente, nos inspira!

5. Aprendizado e Inspiração

Aprendizado é algo que faz parte da vida (ou deveria fazer!). Pelo menos, da vida de um atleta, isso aparece como algo sagrado.

A pior crise que podemos passar é a crise interna. Essa é a responsável por aumentar o nosso nível de stress. Muitas vezes estamos trabalhando demais, executando um volume enorme de tarefas, temos uma agenda lotada e não temos espaço para aprender sobre nós mesmos, e isso tem um custo alto no longo prazo. Quem valoriza o processo de aprender sobre si, enquanto executa, estará na frente.

Guga nunca esteve sozinho, teve pessoas que o ajudaram no aprendizado e foram fonte de inspiração. Ele citou o Larri e o irmão Gui como parceiros “[Eles] tinham desafios que eram muito complicados. E parece que você está sozinho, mas não tá. Através dos exemplos fui me fortalecendo”.

Assim como no esporte, um executivo, quanto mais no topo chega, mais sozinho se sente, pois algumas preocupações, medos, ansiedades, angústias, não podem ser compartilhados com outras pessoas da organização. Ao mesmo tempo, ele também tem que performar no seu máximo potencial para gerar resultado junto com o seu time.

Ter um parceiro ao seu lado para treinar novas percepções, ajudar a evoluir novos modelos mentais, estabelecer objetivos, desenvolver a autoconfiança sem ser arrogante, e potencializar o time, passa a ser fator crítico para o sucesso.

Ponto de Atenção: Diante da forte competição de mercado ou frente a um desafio, nós criamos muitos dos nossos problemas, geramos conflitos internos que são fonte de stress, que muitas vezes são ignorados. Fazer um STOP para olhar para si de forma consciente não é sinal de egoísmo, e sim de humildade, de vontade de melhorar e impactar diferentemente o ambiente onde atuamos. Se desprender dos conflitos internos, além de reduzir o nível de stress, pode ser uma atitude responsável por uma grande virada em sua vida.

Esta foi a minha percepção como coach e gostei muito da metáfora que o Guga usou comparando o Day 1 com uma virada de jogo. Ele teve vários dias de virada. E você, já parou para pensar sobre os seus?

 

Este artigo foi originalmente publicado em Endeavor

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