Formada em Jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero e com especialização em Publishing pela Universidade Yale, Cristiane trabalhou na revista Exame por 12 anos, quando decidiu mudar de profissão. A jornalista, escritora e palestrante falou com o Na Prática sobre sua transição de carreira e os desafios do mercado editorial.
Sucesso para mim é ser feliz no trabalho e achar que ele tem um impacto na vida das pessoas. Não fiquei rica escrevendo, mas cada vez que recebo um e-mail de alguém falando que um livro meu o ajudou a tomar uma decisão no trabalho ou na carreira, para mim está ganho.
Cristiane era editora-executiva da Revista Exame quando saiu para se arriscar no mundo editorial. Abrir mão dos confortos e da segurança de um bom cargo foi uma decisão difícil, que demorou dois anos para ser tomada. “Eu saí sem nada. Aliás, eu não tinha nem receita durante um ano e meio, enquanto escrevia o livro”.
E o que, exatamente, fez com que Cris Correa pensasse em sair de um emprego em que possuía tantos benefícios? Segundo ela, o sentimento de que ela já havia aprendido tudo o que poderia por lá. “Queria usar esse tempo de forma melhor, fazendo coisas novas, aprendendo e tendo mais impacto na vida de mais gente”, conta.
Assim que largou a revista, passou a se dedicar inteiramente ao “Sonho Grande”. “Escrever a história do trio [empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira] era, naquele momento, a coisa que eu mais queria fazer”. Fácil, não foi. Os empresários são avessos à exposição midiática e ela explica que até tênis aprendeu a jogar para tentar se aproximar deles e extrair algumas respostas.
“Jorge Paulo já havia mandado dizer que não falaria. Mas me recebeu para um café. E confirmou que não falaria, embora não se opusesse a que eu escrevesse o livro”.
O esforço valeu: em quatro meses, “Sonho Grande” já havia vendido 100 mil cópias. Até hoje, foram mais de 500 mil – com traduções para inglês, mandarim e coreano. Além dele, “Abílio” chegou ao topo da lista dos mais vendidos da revista Veja, e o mais recente, “Vicente Falconi – O que importa é resultado“, recebeu excelentes avaliações da crítica.
Mas o maior indicador de que a mudança de carreira, de fato, deu certo, é a realização da própria Cris Correa – que, se hoje pudesse fazer qualquer coisa, “continuaria exatamente o que faço: dar minhas palestras, levar essas histórias para o Brasil inteiro”.
Para aconselhar quem também pensa em mudar de carreira, a escritora dá três dicas principais:
“Se você nunca escreveu coisas grandes, vai ser difícil sair um livro, por exemplo.”
“Eu levei muito tempo para identificar o que eu gostava de fazer e o que fazia bem, até que percebi que era contar histórias.”
“Se deu errado, honestamente, vai procurar outra coisa. Não tem problema, não é o fim do mundo. Eu pensava: ‘na pior das hipóteses, vou voltar e pedir emprego. Sua vida não vai acabar se aquele negócio não der certo.”
A estreia de Cris Correa no mundo editorial foi com um best-seller (“Sonho Grande”). Apesar do sucesso, a brasileira relata que o processo todo foi permeado por desafios. “Primeiro, o meu maior desafio era: ‘será que vou consegui fazer?’ Eu não tinha certeza.”
Logo no começo, soube que o trio protagonista não queria participar. Cristiane continuou tentando por quatro anos. “Uma vez que disse que ia fazer sem eles, meu maior desafio era conseguir escrever algo que prestasse. Então, fui falar com quem já escreveu um livro para pegar dicas”.
Depois do primeiro publicado, passou a temer que não conseguisse o feito de antes: “comecei a pensar, ‘será que sou músico de uma música só?’”
Hoje, já uma escritora estabelecida, diz que continua sendo difícil, especialmente pela cobrança do público pelo próximo lançamento, que deve manter o mesmo padrão qualidade. Então, o que ficou mais fácil com a prática? “À essa altura do campeonato, eu sei que vai sair um livro”, brinca.
A vida de quem escreve é diferente da de um executivo ou consultor, por exemplo. Entretanto, criar uma rotina é o caminho que a escritora utiliza para ser eficiente.
“Não acho que rotina engessa você. Ela te libera para pensar nas coisas que são realmente diferentes”, opina Cris Correa. “Se todo dia eu acordar e pensar ‘o que vou fazer hoje?’, fico perdida toda manhã”, explica. Ela conta que, inclusive, mantém uma meta de caracteres a cumprir por dia em que trabalha.
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