Aos 27 anos, Tallis Gomes, é sócio de uma empresa com o valor de mercado de 1 bilhão de reais, criada por ele mesmo. A Easy Taxi surgiu em junho de 2011, e desde a sua criação captou 145 milhões de reais em investimentos. O primeiro deles, em 2012, quando a empresa recebeu aporte de 10 milhões de reais da Rocket Internet, gigante alemã especializada em negócios online. Em 2014, a empresa se tornou a primeira startup brasileira a movimentar mais de 1 bilhão de reais em transações.

Daí para a presença em 35 países da América Latina, Ásia e África; 20 milhões de usuários; 400 mil táxis cadastrados, 172 escritórios e 1 300 funcionários, foi uma estrada longa, mas percorrida em altíssima velocidade.

Tudo isso era inimaginável para os outros, que por diversas vezes não embarcaram na ideia do garoto da pequena Carangola, no interior de Minas Gerais, com apenas 35 mil habitantes. Não para Tallis, que vislumbrou a multinacional dominando o planeta quando bolou a Easy Taxi em um fim de semana.

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Em 2011, ele participava da Startup Farm, programa de aceleração então estreante no Brasil. Para o evento, Tallis imaginara um aplicativo de ônibus que ofereceria uma espécie de mapeamento do transporte na cidade. Até que descobriu um concorrente de peso: o Google. E faltavam dois dias para a sua apresentação. Focado em melhorar a ideia inicial, o estalo para conceber o Easy Taxi teve um empurrãozinho do acaso: o garoto tomou uma chuva torrencial, em pleno Rio de Janeiro, plantado na calçada em busca de um… táxi. Ele fez o pitch com a ideia de um aplicativo que aproximaria taxistas de clientes, mas não ganhou a competição. As ideias vencedoras, diz ele, não vingaram ao longo do tempo. A dele, bem, parece ter dado um pouco mais certo.

Tallis é conhecido como um menino-prodígio dos negócios impulsionado inicialmente pela paixão à música – um hobby marcado no header de sua página no Facebook, que estampa uma foto do Led Zeppelin.

Tallis Gomes [Magnus Höij]

Um empreendedor hiperativo e rock’n’roll

Aos 14 anos, queria tocar na festa da final com sua banda de rock. Tinha o “sim” da escola, mas faltava uma bateria. Sem grana para quase nada, para alugar ou comprar um equipamento desse, nem se fale… Ele brinca: “O rock’n’roll salvou a minha vida. Ele me fez empreender”.

Aí Tallis inventou seu primeiro negócio inspirado em uma moda prestes a estourar. Quando surgiram os celulares com câmera, ele começou a revender os aparelhos ofertados no Mercado Livre com uma margem de lucro de 25%. Fazia tudo à mão: tirava um print screen dos produtos, alterava os valores, juntava os folhetos em um book e batia na porta dos professores, pais e amigos.

Com o pequeno negócio, Tallis tornou-se a estrela do rock na escola e, também, dos bons deals dos celulares da cidade. Com a grana conquistada, mudou-se para a cidade grande, Juiz de Fora, aos 16 anos. Aos 17 quase 18, rumou para o Rio de Janeiro, focado no objetivo de estudar marketing.

Em 2006, no primeiro período de faculdade, Tallis resolveu aprender inglês para valer e ingressou em um programa na África do Sul, que possibilitava ao aluno cursar uma cadeira universitária. Ficou por lá seis meses e frequentou a aula de Antropologia. O tema da matéria era a origem do poder, e Tallis visitou tribos na Namíbia para observar a estrutura de liderança delas. Segundo ele, a experiência o ajudou a moldar o seu estilo como líder.

De volta, foi procurar estágio. Acabou aceito pelo Grupo Severiano Ribeiro, de exibição de filmes, e ali reforçou uma outra característica clara de seu perfil: a de estar sempre um passo à frente e pensar em projetos de vanguarda. Tallis cruzou uma série de dados e observações sobre o comportamento do público infantil. Criou um perfil no Twitter às escondidas, que bombou com promoções. Tudo isso resultou em sua segunda empresa, a E-Spartan, de gamificação em mídias sociais.

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A primeira empresa, e a primeira quebra

Durou pouco menos de um ano. A E-Spartan conquistou dois clientes apenas, e Tallis quebrou. Valeu uma lição valiosa: é fundamental acertar no timing do negócio. Não adianta arquitetar um plano brilhante que depende de um futuro, ainda que próximo.

A esta altura, Tallis já tinha abandonado a faculdade a fim de cuidar de seu negócio. Com a quebradeira, teve que procurar emprego formal. Encontrou vaga de analista júnior da Unilever, e acabou trabalhando ao lado do técnico de vôlei Bernardinho, que comandava o time feminino patrocinado pela empresa. Pegou para si um ensinamento que diz servir para a vida: a obsessão por dados, tabelas e estatísticas antes da tomada de decisão.

Na sequência, Tallis descolou emprego na Ortobom, fabricante de colchões, o que parece insólito, mas faz sentido, pois ele foi responsável pelo e-commerce da empresa. De novo, ele notou uma brecha para outro negócio.

A Tech Samurai, que existe até hoje, foi a solução encontrada para o desenvolvimento do site. É aí que entra o desenvolvedor Vinicius Gracia, hoje um dos três sócios da Easy Taxi ao lado de Tallis, amigo de um amigo. Ao lado de outro desenvolvedor, Bernardo Bicalho, eles criaram uma plataforma e um sistema de gestão de projetos. Em resumo, quando entrava um projeto, eles disparavam para a mão de obra disponível pelos quatro cantos do mundo, pediam orçamento e tocavam a ideia com o melhor custo-benefício. Gente da Rússia, China, Índia, Vietnã. Assim, evitavam os custos trabalhistas brasileiros, encontravam profissionais de alto nível a preços mais baratos e embolsavam boladas. Aos 24 anos, ele diz, “estava ganhando mais do que imaginava ganhar aos 40”.

Em 2011, o inquieto Tallis recebeu a dica de um amigo para a Startup Farm. Saiu de lá com a ideia da Easy Taxi à mão. Deixou a Tech Samurai, e resolveu apostar no projeto vendendo um carro e investindo 30 mil no desenvolvimento do aplicativo.

“Acabei indo me dedicar 100% a isso, mesmo sendo controverso. A Easy Taxi ficou em 4o lugar na Startup Farm, e todas as empresas que ganharam nem existem mais. E o feedback que eu recebi era: essa ideia não é tão boa. Se fosse boa, alguém já teria feito nos EUA”, conta.

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O início difícil da Easy Taxi

Os primórdios foram artesanais. Ele criou um protótipo em que o pedido do usuário caía direto no seu email pessoal. Em seguida, Tallis abria o Google Maps à caça de um veículo. Ligava e fazia a conexão. Era uma pedreira.

E tome obstáculos. As cooperativas não topavam mudar o seu sistema, os taxistas não tinham celular com internet – no máximo, usavam Nextel –, havia muita desconfiança sobre o contrato de serviços pela web. De jogar uma pelada com os taxistas até mostrar para eles que essa tal de internet também serviria para assistirem canal pornô, Tallis fez de tudo para conquistar espaço.

O empreendedor encontrou mais um sócio no caminho, e que continua até hoje, o desenvolvedor Marcio William. Outros dois outros fizeram parte da empresa, mas saíram no trajeto, sendo que um deles rendeu uma briga feia na justiça.

A Easy Taxi ganhou fama com os turistas gringos do Rio de Janeiro antes de cair na boca do brasileiro. Ainda em 2011, ganharia uma série de concursos e prêmios. Tallis seguiu o ritmo e passou esses seis meses dividido entre o processo de testar e rodar o projeto na prática e caçar investidor. Até que se encheu do vai-não-vai do dinheiro grande e parou de atender telefonemas.

Em março de 2012, com a Easy Taxi mais formatada, engatou os 10 milhões da Rocket Internet. “A gente particularmente cresceu mais rápido, chegando a se tornar o maior business de service mobile da história. Nunca ninguém tinha construído uma rede prestando serviço mobile tão grande”, diz.

Há pouco mais de seis meses, bateu a velha inquietude, e Tallis, eleito em fevereiro pela Forbes Brasil um dos 30 jovens brasileiros mais influentes, ao lado do jogador Neymar e do rapper Emicida, optou por deixar o cargo de CEO da Easy Taxi e manter-se apenas na sociedade. “Tinha completado meu ciclo no que poderia oferecer para a companhia”, avalia. “Além disso, eu sou empreendedor, e meu trabalho lá era de gestor. Ficou meio chato.”

A sua saída foi oficializada no fim do ano passado. Ele diz que já tem dois negócios em fase de testes, e pretende lançar esses e mais outros três até o final deste ano. A única pista é que são ligados a mobile e se baseiam em soluções convenientes para problemas reais (fill the gap between the necessity and the convenience). E que o objetivo é fazer algo, diz ele, 10 vezes maior do que a Easy Taxi nos próximos três anos. Não duvide.

Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT 

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