Mulher e homem discutem em reunião de trabalho

Se você já participou de algum processo seletivo para trabalhar em uma consultoria, deve ter notado que muitos dos cases que aparecem nas provas parecem um tanto surreais. Os examinadores podem te pedir para descobrir, por exemplo, se uma loja de caixões produzidos à mão na Moldávia é lucrativa ou não – sendo que o único número passado ao candidato é o market share (participação no mercado) da empresa no país.

“Nesse caso, você pode começar estimando a população da Moldávia e a taxa de mortalidade no país. A partir disso, é possível calcular o tamanho total do mercado de caixões lá e estimar o volume de vendas da loja. Então, você supõe qual é a receita, o custo e o lucro esperados, para chegar ao preço médio do empreendimento no mercado em questão”, aponta Caio Dafico, consultor associado da consultoria Bain & Company.

 

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Depois, é hora de analisar outros dados do case. Suponhamos que o candidato também tenha a informação de que a concorrência começou a produzir caixões industrializados, que custam três vezes menos do que os produzidos manualmente pela loja em questão. “Nesse contexto, a recomendação ao dono do empreendimento é sair do negócio, pois em poucos anos ele vai dar prejuízo. Para traçar uma estratégia de saída do mercado, você precisa calcular quanto valem os ativos da empresa, a fim de descobrir o melhor momento de vender o negócio”, diz.

Outro tipo de case que pode surgir no recrutamento de consultorias é o desafio de abrir um banco para as classes D e E em El Salvador, por exemplo. “Uma ideia para começar a resolver esse problema é calcular a margem financeira desta operação, a partir de uma estimativa do spread bancário (diferença entre a taxa de empréstimo e a taxa de captação). Para tal, basta estimar o PIB do país, supor quantos % do PIB é composto por consumo destas classes e quanto deste consumo é pago através de empréstimos. Este é um excelente primeiro passo para ver se justifica a abertura do banco ou não”, afirma o gerente da Bain Rafael Martines.

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Para Rafael, o segredo é criar uma estrutura lógica de pensamento, fazendo análises a partir de hipóteses. “É o que acontece no dia a dia do consultor. Você precisa elaborar hipóteses primeiro, para depois checar os números reais e exatos. No fim, o que o examinador quer saber é se você é capaz de entender e analisar os problemas dos seus clientes”, diz.

“Sem dúvidas, mostrar sua linha de raciocínio é o mais importante”, concorda Caio. “Mas você também precisa saber fazer cálculos e ter bom senso para estimar a ordem de grandeza em que vai se basear. Se você sugerir um número muito absurdo, isso pode te prejudicar.”

Entrevistas

Além de saber como pensar, saber como se portar em uma case interview também é importante. Com duração média de 45 minutos, a entrevista é uma chance de mostrar um pouco sobre quem você é.

E para ter um resultado satisfatório, saber contar sua história, costurando experiências profissionais e acadêmicas de maneira coerente, é fundamental. É o que diz Bruno Barros, recrutador do Boston Consulting Group.“Também vamos analisar o fit com a empresa, ou seja, se você possui os valores que estamos buscando”,  fala.

Bruno avisa que a maneira como você fala e interage também está sendo analisada, já que ter boa comunicação é uma habilidade imprescindível na área, assim como flexibilidade para adaptar modelos de pensamento. Leia-se: não fique tentando forçar um problema em uma estrutura pronta de case, mas adapte-a conforme for necessário.

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O processo também deve ter duas mãos. É importante fazer perguntas e esclarecer quaisquer dúvidas, sejam sobre dados ou sobre o problema proposto, ao invés de resolver tudo em silêncio e entregar uma resposta. E se for desafiado ou criticado, defenda sua posição – mas evite a arrogância e a postura defensiva, já que frequentemente errar faz parte do processo de resolução.

“Como quase tudo na vida, o case nem sempre tem respostas certas e erradas, e sim caminhos que fazem sentido ou não”, resume Bruno. “A gente quer entender o seu problem solving, como você aborda um problema e como você se estrutura para tentar resolvê-lo.”

Christian Orglmeister, sócio do BCG no Brasil, ecoa a ideia em um Bate-Papo com o Na Prática. “A história que eu quero que você me conte é o que você aprendeu, que situações enfrentou, como isso te transformou numa pessoa diferente”, fala. “Esse é o perfil do consultor: ele está aproveitando tudo que faz para aprender e se tornar uma pessoa melhor.”

Clubes

Para auxiliar no processo de preparação surgiram os consulting clubs, ou clubes de consultoria. Presentes em várias cidades brasileiras, são essencialmente grupos de estudos em que alunos treinam em equipe a resolução de cases.

Em unidades mais estruturadas, o conteúdo pode ir além do treino e incluir palestras com consultores, aprofundamento em projetos ou simulações de outras etapas dos processos seletivos – às vezes até com recrutadores das próprias empresas. Há também uma versão online global, o PrepLounge.

Mesmo para alunos mais bem preparados, participar de um consulting club pode ser útil para expandir horizontes. “O clube acaba assumindo a missão de qualificar os alunos para a área de consultorias utilizando-se de projetos e debates pouco explorados em salas de aula”, diz Lucas Eduardo Assis, diretor de relações institucionais do consulting club da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira em negócios. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes setores e áreas de atuação.

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