Carina Bacelar
Publicado em 18 de setembro de 2025 às 14:08h.
Você sabe o que é uma deep tech? Se você tem interesse no setor de pesquisa e inovação, já deve ter ouvido falar desse termo. Deep techs são empresas, principalmente startups, que criam novas tecnologias baseadas em descobertas científicas ou inovações significativas de engenharia.
Neste artigo, você vai entender o que é uma deep tech, e como esse setor tem se comportado no Brasil, em uma relação bastante próxima com universidades e centros de excelência.
Na definição do relatório Deep Tech Radar Latam 2025, da consultoria Emerge, a deep tech é uma startup que oferece serviços ou produtos originados por pesquisas científicas e tecnológicas de ponta. Normalmente, elas cumprem cinco critérios objetivos para ter essa classificação:
O radar traz um detalhamento das principais tendências das soluções criadas por essas empresas de inovação:
O relatório da Emerge mostra que existem 1316 deep techs na América Latina, e 72% delas (952) estão o Brasil. A liderança é atribuída ao peso populacional e econômico do país, mas também à quantidade de pesquisadores e universidades, e ao papel ativo de agências governamentais de incentivo à pesquisa, como Finep, BNDES, Sebrae e FAPESP.
Por outro lado, Enquanto o Brasil tem um mercado interno relevante para inovações, países como Chile e Argentina, que têm foco internacional, atraem mais facilmente investidores globais.
O Chile lidera a atração de investimentos em deep techs na América Latina, com quase US$ 607 milhões, seguido pela Argentina (US$ 486 milhões) e, só depois, pelo Brasil (US$ 216 milhões). Isso se explica também porque a maior parte dos investimentos ficam em poucas empresas da região, consideradas outliers.
A análise mostra, por outro lado que o Brasil se destaca na pesquisa, que é tão fundamental nesse setor. O país acumula mais de 700 mil publicações e 21.929 patentes. E isso, segundo especialistas responsáveis pelo relatório, pode ser atribuído ao ecossistema acadêmico relevante no nosso país.
As áreas de mais destaque desse mercado na América Latina são saúde e bem-estar, que concentra 37% das empresas, e agro e alimentos (28%). Só esses dois setores concentram 65% das startups. Esse cenário, segundo a pesquisa, reflete vantagens comparativas, como a liderança global no agronegócio e as demandas cada vez maiores em saúde pública.
Por outro lado, setores de sustentabilidade, como energia e clima (7%) e mobilidade e logística (2%) ainda não concentram tantas empresas. Essa desigualdade entre setores é um reflexo da concentração de investimentos nesses países, como mostra a tabela a seguir:
De acordo com o relatório, os principais desafios das deep techs na América Latina passam pela concentração de investimentos, mais necessidades de políticas públicas de fomento e outros:
O ecossistema de deep techs na América Latina é caracterizado por um “jogo de outliers”, onde poucas empresas atraem a maioria dos grandes investimentos.
Apesar de o Brasil concentrar o maior número de deep techs, não lidera em investimento mobilizado, indicando desafios na conversão de recursos em empreendimentos. Muitas startups no país ainda dependem de capital público de baixo volume.
A ciência na América Latina se tornou um motor de inovação, com universidades como UNICAMP, UFMG e USP no Brasil liderando o registro de patentes. Mas a transformação desse vasto conhecimento em tecnologia aplicada ainda é fortemente dependente do setor público.
O Brasil é conhecido por suas publicações científicas e patentes. No entanto, enfrenta desafios para transformar investimentos em novas startups. Isso mostra uma diferença entre a produção de conhecimento e sua aplicação no mercado.
Setores cruciais como Energia & Clima (7% das deep techs) e Mobilidade & Logística (2%) continuam subdesenvolvidos, apesar do grande potencial da América Latina como um hub global de transição energética. Além disso, áreas como Defesa & Soberania e Espaço & Observação também têm presença tímida.
Esse cenário revela um descompasso estrutural entre as vocações naturais do país, como biodiversidade e matriz energética limpa, e os incentivos à inovação nesses setores.
Depois de um período de expansão rápida, chegando a 185 novas deep techs criadas em 2020, a região tem observado uma desaceleração significativa a partir de 2023.
Houve uma queda de 46% no número de startups fundadas em 2023 em relação a 2022, e mais 56% em 2024 em comparação com o ano anterior. Essa tendência pode ser atribuída ao cenário global do mercado de investimentos, e à menor visibilidade das startups mais jovens.
Há uma desigualdade no desenvolvimento de tecnologias na América Latina, e isso mostra que precisamos de políticas públicas mais fortes. Elas devem incentivar investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
As recomendações do relatório incluem aumentar programas de pós-graduação e centros de pesquisa para atrair e manter talentos. Também é importante fortalecer a formação de doutores empreendedores. Além disso, é necessário conectar pesquisadores com a indústria e usar compras públicas para alavancar a adoção de novas tecnologias pelo próprio governo.