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Certamente você já reclamou – ou ouviu alguém reclamar – da lentidão dos órgãos públicos, da morosidade do funcionário concursado ou dos gastos excessivos do governo. Possivelmente, até chegou a desconsiderar a opção de trabalhar no setor por não concordar com essa realidade e se desanimar diante de tantos maus exemplos. Mas fato é que muita gente boa tem assumido o desafio de aprimorar os serviços públicos, sendo ou não contratados pelo Estado.

Por lidarem diretamente com questões de interesse da população (como educação, saúde, inclusão social), outras instituições se tornaram parte do que especialistas chamam de “espaço público”. Aí entram as organizações não governamentais, fundações e também o setor apelidado de “dois e meio” – uma área intermediária entre o segundo setor (privado) e o terceiro setor (fins públicos e não-lucrativos), formada por empresas que seguem um modelo de negócio social.

“A noção de espaço público se ampliou”, explica Fernando Abrucio, doutor em Ciência Política pela USP e coordenador do curso de Administração Pública da FGV. Com isso, aumentaram também as possibilidades de carreira para quem tem interesse em gestão pública – tendo formação específica nessa área ou em cursos afins, como Administração de Empresas, Economia, Direito, entre outras. Confira aqui as principais áreas de atuação para esse profissional:

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Altos quadros do Estado: Dentre os funcionários públicos (que trabalham para o governo), os gestores públicos são aqueles que exercem cargos estratégicos e de direção. A maioria é selecionada por meio de concurso, que oferece uma carreira bastante estável, mas também existem os cargos em comissão, para os quais a pessoa é nomeada por um superior. Nesse último caso, as funções costumam ser temporárias e de confiança, acompanhando o mandato de quem as indicou – por exemplo, os Ministros, que podem ou não ser trocados com a mudança de presidente. Embora seja normalmente associado ao Executivo – governo federal, estadual e municípios –, o gestor público pode atuar nos três poderes.

Gestores de ONGs e fundações: O descompasso entre a promessa dos políticos e sua realização pelos mecanismos de Estado abriu espaço para o crescimento do número de organizações da sociedade civil que atuam em questões públicas, como erradicação da pobreza, acesso a moradia, saúde e educação. Para Abrucio, a relação próxima do governo com ONGs e fundações traz reais benefícios para a população. “Quanto mais players engajados nessas causas, melhor o resultado. Mas, para isso, eles precisam de gente com conhecimentos em administração pública”, diz. Por esse motivo, o setor atrai cada vez mais executivos da iniciativa privada dispostos a mudar o rumo de suas carreiras e alcançar maior realização pessoal e profissional. E os salários costumam estar em sintonia com o mercado e podem inclusive atingir cifras bastante altas para cargos de direção.

Organismos internacionais: Organizações como ONU (Organização das Nações Unidas), FMI (Fundo Monetário Internacional) e OMC (Organização Mundial do Comércio) também têm as políticas públicas como objeto de ação. Para Abrucio, trabalhar nessas instituições demanda uma combinação de conhecimentos em Relações Internacionais, Gestão e, sobretudo, Políticas Públicas. Como a atuação dessas entidades costuma ser em uma esfera global, é essencial ter interesse por política mundial e acompanhar o noticiário internacional, de prevenção de conflitos armados à contenção de epidemias. Grande parte das sedes fica em outros países, como a ONU, que mantém o escritório principal em Nova York, ou a OMS (Organização Mundial da Saúde), com sede em Genebra – embora haja também escritórios locais.

Consultoria para órgãos públicos: Os órgãos estatais que querem aumentar sua eficiência costumam procurar a visão de agentes externos – como consultorias especializadas em gestão pública – para ajudar a melhorar seus resultados. “Há um anseio pela melhoria dos serviços públicos que dependerá da melhoria da gestão. Esse processo vai envolver não só os atores do próprio setor público, mas também olhares de fora que ajudem a alcançar seu objetivo”, diz Abrucio. Esse serviço é prestado tanto por consultorias multinacionais, como EY (Ernest & Young) e McKinsey, quanto por empresas menores especializadas no aconselhamento do setor público, caso da Conam e da Fundap, por exemplo. Também há espaço para se atuar em organizações como a Fundação Brava, que apoia projetos de melhoria da gestão pública.

Empreendedores sociais e lideranças políticas: Se o empreendedorismo tradicional está em alta no Brasil, o mesmo ocorre com o empreendedorismo social – a criação de empresas inovadoras focadas não só no lucro, mas na solução de problemas sociais. Para Abrucio, esse fenômeno tende a ser mais forte em países em desenvolvimento, o que é o caso não só do Brasil mas também de grande parte da América do Sul e Ásia, lugares com bastantes oportunidades na área. “Houve uma mudança de valores nos jovens do ponto de vista do mercado de trabalho. A formação na área de administração pública envolve também formar lideranças políticas e sociais”, explica o professor. De fato, o número de jovens candidatos cresceu 55% de 2010 para cá, embora ainda representem menos de 2% das candidaturas.

Concessionárias públicas: “O Brasil vai ter um boom de concessões públicas e PPP’s (Parcerias Público-Privadas), o que vai fazer com que as empresas precisem de gente que entenda como funciona o setor público e faça o meio-campo”, diz Abrucio. Em 2013, foram assinados no Brasil 11 contratos de PPP’s – modelo de contrato que foi regulamentado no país em 2004. Como constituem uma prática ainda muito recente por aqui, as PPP’s são controversas e enfrentam o desafio de se tornar mais transparentes em sua gestão. O governo costuma lançar mão desse mecanismo para diluir custo, compartilhar risco e garantir qualidade na execução de obras e prestação de serviços de transporte (caso da Linha Amarela do Metrô paulista), saneamento (caso da Sabesp), saúde, educação, resíduos, entre outros. Em São Paulo, a Artesp é responsável por regulamentar e fiscalizar as parcerias na área de transportes.

Áreas de responsabilidade social: Por fim, há possibilidades de atuação nos departamentos de responsabilidade social das empresas, encarregados da articulação com a comunidade. Normalmente, seu trabalho envolve projetos socioculturais, de profissionalização, diminuição de desigualdade, conscientização ambiental e, mais recentemente, sustentabilidade. É verdade que, essas iniciativas fazem parte da estratégia de marketing da empresa – contudo, para gerar resultados, elas demandam profissionais capacitados em gestão pública que tenham familiaridade com essas questões. “Essa área requer uma sensibilidade treinada para lidar assuntos socioambientais que o administrador tradicional muitas vezes não tem”, pontua Abrucio.

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