Estátua Brasília
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Aos 17 anos, Ana Flávia Ramos saiu de Belo Horizonte para um intercâmbio na Finlândia – e o choque cultural foi imediato. “Era um país onde tudo funcionava: os serviços públicos eram ótimos, nada atrasava, não havia grande diferenciação de renda”, diz. “E as pessoas respeitavam as regras sociais: mesmo com carteiras coladas umas nas outras, ninguém colava na prova.”

Voltou ao Brasil com vontade de impactar pessoas e ajudar a implementar no país uma realidade mais próxima daquela que tinha vivenciado. Após considerar brevemente uma graduação em Relações Internacionais, optou por Administração na Universidade Federal de Minas Gerais, mais focada em empresas, e por Administração Pública na Fundação João Pinheiro, que forma profissionais especificamente para trabalhar no governo.

Passou anos levando os dois cursos simultaneamente e virava noites estudando. A atração de um duplo diploma, no entanto, era suficiente. “Fui me interessando naturalmente pela área de desenvolvimento econômico e pela relação simbiótica entre empresas e governos”, lembra. “Foi aí que achei a conexão entre as duas faculdades.”

A área estava clara, mas faltava o emprego. Como parte da graduação, a João Pinheiro exige um estágio obrigatório na gestão pública mineira. Ana deu um jeito de já experimentar o que queria e conseguiu um cargo na Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico, onde também trabalhou após se formar.

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“Aprendi muito ali, mas também que o papel de concursada pública não me cabia”, diz ela. Faltava dinâmica e, não raro, comprometimento no dia a dia. Incomodava-a, por exemplo, quando colegas saíam mais cedo do trabalho ou priorizavam tarefas pessoais. “E os projetos grandes tinham muita atuação política, o que fazia com que eu me sentisse presa naquele sistema todo.”

Modelo PPP Como bolsista da Fundação Estudar, Ana Flávia viajava frequentemente a São Paulo, onde fica a sede da organização. Já cogitava trabalhar na cidade quando tomou conhecimento de uma vaga na SP Negócios, a empresa de economia mista vinculada à Secretaria Municipal de Finanças e Desenvolvimento Econômico paulistana.

Ana Flavia Ramos
[acervopessoal]

Ela não queria deixar a gestão pública, mas precisava atuar de maneira mais impactante. Pareceu o lugar ideal. Depois de passar por um processo robusto de seleção, ela precisou fazer as contas. Havia uma multa de rescisão de contrato com o governo mineiro a ser paga se ela optasse pela mudança – mas valia a pena.

“Na SP Negócios, essa relação empresa-governo se aprofundou ainda mais”, diz ela, que trabalhou com leis de incentivo fiscal e desburocratização empresarial. “Eu atendia muita empresas para atrair investimentos e ali todos sabiam conversar na linguagem do mercado – que tempo perdido era dinheiro perdido, por exemplo.”

Consultoria Dois anos depois e já pensando em como preparar a candidatura para um bom MBA, Ana Flávia decidiu experimentar o outro lado do balcão: o setor privado. Tudo faz parte de um plano de carreira que culmina, no longo prazo, com um cargo alto dentro da gestão pública brasileira. Até lá, a mentalidade é prática: quanto mais experiência, melhor.

“Estar na base é algo muito duro no governo. Preparamos os projetos e decretos mas não temos poder de decisão, que pode não ser técnica e sim política”, explica. “Para ter uma posição de caneta na mão, às vezes é mais rápido vir de fora que crescer por dentro.”

Ela tinha, no entanto, alguns critérios de escolha e uma vontade de criar uma trajetória coerente. Deu sorte quando uma das maiores consultorias estratégicas do mundo, que estava montando um time especializado em setor público e social, fez um convite.

Trabalhar na consultoria é também uma chance de expandir seu leque de conhecimento sobre diversas áreas, e além de já ter participado diretamente de projetos relacionados à infraestrutura e saúde, Ana Flávia também está em contato com projetos de educação, sistema judiciário e melhoria fiscal, por exemplo. Assim, pode rodar o Brasil e conhecer diferentes rincões, governos e organizações sociais.

“Por mais que ajam pontualmente, sinto que as consultorias podem agregar muito valor. Nosso desafio é deixar o conhecimento e as análises que geramos de maneira que sejam utilizadas pelas pessoas depois”, resume.

Perspectiva Agora com experiência em praticamente todos os lados da mesa, Ana Flávia tem uma visão muito mais holística do que é a gestão pública no Brasil – e do que é preciso para melhorar.

“Percebi que precisamos discutir seriamente a produtividade dentro do governo”, diz. “Tanto o modelo de estabilidade do funcionalismo público, que desmotiva e causa marasmo, quanto a importância de implementar mais ferramentas privadas de gestão.”

Um jeito de fazer isso seria atrair mais pessoas do setor privado para o público, em todos os níveis. Novas ideias e mentalidades, como introduzir um sistema meritocrático, poderiam mudar a produtividade interna e inspirar novas conexões.

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É algo que ela experimentou na SP Negócios, onde profissionais com experiência em empresas interagiam diariamente com servidores públicos. Nem sempre a relação era pacífica, mas costumava ter saldo positivo.

“É um modelo muito vencedor hoje, que mistura pessoas de diferentes backgrounds e tem um ritmo diferente.” Outros exemplos híbridos parecidos são a Investe SP, a Secretaria de Ordem Pública do Rio de Janeiro e o Escritório de Prioridades Estratégicas de Minas Gerais –  que foi desmontado, ressalta ela, após troca de partidos.

Causando impacto Quem não se enxerga como um servidor público ou consultor em potencial ainda pode impactar o governo brasileiro através de ONGs ou negócios sociais. É o que ela percebeu na prática, ao atuar também junto a organizações sociais.

Se essa for a intenção, a primeira coisa a fazer é criar uma organização ou se juntar a uma que tenha um nome forte. “É o primeiro passo para ter pessoas fortes ao seu lado, que por sua vez atraem outras pessoas boas para lutar com você.”

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Depois, é hora de institucionalizar o projeto e arregaçar as mangas. “Trabalhar com o setor público é uma coisa muito difícil, mas não fique se lamentando: foque na solução e não nos obstáculos.”

Ter mentores e conhecer pessoas dentro do serviço público e áreas afins também é importante para garantir orientação nas horas mais difíceis e aumentar as opções e conhecimentos. “Eu só conseguir fazer as transições que fiz porque tinha a força dessa rede”, conclui. “Então chame gente para tomar um café e corra atrás.”

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