jovem correndo com mala na mao

Decidir a carreira não é uma coisa tão simples e fácil, visto que tal decisão permeia diferentes âmbitos da vida. Em 1997, um grupo de psicólogos americanos publicou um artigo sobre o significado de trabalhar. Intitulado “Jobs, Careers, and Callings: People’s Relations to Their Work”, o paper se tornou referência quando se trata de discussões sobre relações individuais com o trabalho. Resumidamente, são três as dimensões: o trabalho pode ser considerado Emprego, Carreira ou Chamado.

O primeiro grupo foca na necessidade de trabalhar e nas recompensas financeiras, enquanto o segundo foca no avanço profissional. Aqueles no terceiro grupo focam no prazer de fazer algo socialmente útil e satisfatório.

Segundo os autores, as diferenças entre as respostas dos entrevistados não podem ser reduzidas às diferenças demográficas ou ocupacionais. Ou seja, não é uma questão do trabalho em si, mas da visão de cada indivíduo, que os torna de um tipo ou outro – e isso cria uma série de perguntas interessantes.

“Como podemos encontrar pessoas que se localizam em cada uma das dimensões em algumas profissões, podemos começar a perguntar como o mesmo trabalho pode ser visto como um Chamado para uma pessoa e um Emprego para outra”, escrevem.

Autoconhecimento na hora de decidir a carreira

Para Tâmara Andrade, que usou a pesquisa em sua função como head de seleção e desenvolvimento da Vetor Brasil, é aí que entra a importância do autoconhecimento na construção da trajetória profissional. Programas de carreira como o Autoconhecimento Na Prática (focado no autoconhecimento) e o Carreira Na Prática (que oferece a possibilidade de conversar com profissionais do mercado) também são boas opções para guiar essas reflexões.  

Psicóloga formada pela PUC-SP e com passagens por multinacionais e ONGs, ela sempre questionou a ideia engessada de sucesso profissional, tradicionalmente ligado à formação escolhida na juventude e às promoções corporativas.

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Testou diferentes possibilidades em sua área, como clínicas, hospitais e organizações, e tornou-se trainee da Unilever. Vendo-se numa situação confortável e com possibilidade de crescimento, Tâmara começou a questionar as bases do conceito de carreira. “Por que todos acham que uma empresa precisa prover algo?”, indagava.

“Motivação é algo interno de cada um e uma empresa, de certa forma, não dá conta dessas demandas, mesmo com milhares de programas de liderança ou de trainee”, explica. “E a carreira quem vai construir é o jovem.”

Foi quando começou a trabalhar em uma consultoria, atuando no desenvolvimento de pessoas, que pode começar a testar melhorias no sistema, introduzindo noções de autoconhecimento. “Grande parte do processo é saber onde você quer estar – não em termos de um nome de empresa, mas de impacto e proposta de vida”, fala. “E todo mundo consegue ter acesso a isso, não precisa sentar num divã.”

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Tâmara Andrade [VetorBrasil] 

Propósito e valores

Usar seu propósito de vida ou vontade de causar impacto são, segundo Tâmara, guias muito mais eficazes para construir um novo tipo de carreira, mais satisfatória e alinhada com os tempos atuais. “As perguntas essenciais são justamente essas: qual é seu propósito? Que impacto quer causar?”

“Muitas pessoas fazem listas de programas para os quais querem aplicar, mas é uma questão de qualidade e não quantidade”, diz. “Fazer uma lista não vai te ajudar a fazer o que você quer, porque se você elencar os melhores mas não se encaixar no lugar, vai acabar fazendo outra lista depois.”

Foi enquanto atuava voluntariamente como diretora pedagógica do Instituto Promundo que conheceu Joice Toyota, cofundadora da Vetor Brasil. “Ela me fez o convite dizendo que tinha um negócio inovador e que tinha pessoas como core”, lembra. “Era o que eu estava procurando: um lugar para quebrar os paradigmas de como enxergamos desenvolvimento e carreira e construir algo voltado para as pessoas.”

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Para a organização – que busca levar profissionais de alto nível para dentro do governo e ao mesmo tempo desenvolve-los profissional e pessoalmente – é uma necessidade geracional. “Nós pensamos e queremos várias coisas ao mesmo tempo, então por que uma carreira precisa ser algo linear?”, pergunta. “É uma geração mais fluida, que não põe as coisas em caixinhas, então por que os programas fazem isso?”

A visão millennial de um mundo mais aberto permeia todos os passos do processo seletivo desenvolvido pela Vetor. Não há binário de gênero, cortes por idade ou formação que tanto a incomodavam na escola. “Achamos que uma formação é uma base para você conseguir criar seu próprio pensamento crítico, mas não te define”, explica.

É um movimento que começa a ganhar força. O Google, por exemplo, não considera diplomas um pré-requisito há anos – e 14% de seus funcionários sequer se formaram. “Em qualquer emprego, a primeira coisa que buscamos é a habilidade de aprender e processar depressa”, disse Laszlo Bock, chefe da área de pessoas da empresa. Importante é mostrar que você consegue fazer o que será necessário.

Combina com a visão de Tâmara sobre o futuro do mercado de trabalho, já em transição devido aos avanços tecnológicos. “Estaremos muito mais ligados ao que queremos causar, aos aprendizados e experiências, e muito menos às definições de uma formação ou nome de algum lugar.”

Reflexões

Dentro da Vetor, é fundamental que os indivíduos trabalhando para melhorar a gestão pública sejam guiados pelo próprio propósito. “Trabalhar no governo tem desafios, mas é uma escolha”, frisa a psicóloga. É desse propósito – que Tâmara encaixa na dimensão “Chamado” da pesquisa – que virão a resiliência e a motivação necessárias.

“O trainee sai da sua zona de conforto e, nos momentos de ansiedade, se pergunta: ‘O que estou fazendo aqui?’ E esse é um questionamento perfeito!”, fala. “O que os acalma é lembrar qual é seu propósito. Já no segundo semestre, o conceito fica muito mais claro. Não é mais uma questão de onde eu vou trabalhar, mas de que lugares poderei ocupar para continuar tendo essa sensação e trabalhando com meu propósito.”

Além disso, ao longo da vida profissional, é possível que alguém passe por todas as possibilidade de relação e veja seu trabalho como emprego, carreira ou chamado. Mas é importante manter em mente que uma dimensão não é necessariamente melhor que a outra: fundamental é saber como você se sente e se aquele é o espaço em que você quer estar.

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“Nem todo mundo precisa ter um chamado, mas precisa estar consciente do momento em que está”, resume. “O que ali é escolha sua? Se você não escolhe, acaba sendo levado pelo caminho que alguém está traçando para você. Uma não-escolha também é uma escolha.”

Por fim, para quem teme arriscar num momento de crise, Tâmara conta que ela mesma escolheu fazer um turning point nessa época, quando deixou as trajetórias corporativas bem delineadas pelo projeto da Vetor.

“As crises não são só econômicas, são também sociais e exigem mudanças. Se não há emprego, por exemplo, vou aproveitar para refletir sobre o que realmente quero e não apenas atirar para todos os lados”, resume. “Se a gente não pára, as crises param a gente. Então do que eu gosto? O que me satisfaz? Isso é importante, não o que a sociedade diz que é ideal. Veja o que serve para você.”

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