“Eu imagino o que se passa na cabeça do jovem”, diz Renan Gomes De Pieri, professor do Insper, em São Paulo. “Ele olha para o lado e ninguém está conseguindo emprego, há poucas vagas ou são ruins. É um desestimulante muito forte.”

Há certo grau de consenso entre o que especialistas e órgãos internacionais esperam do Brasil no ano que vem: estagnação. Até a previsão do governo para o crescimento da economia em 2017, que era de 1,6%, foi rebaixada para 1% em novembro.Ou seja, piorar não vai, mas melhorar tampouco.

O Fundo Monetário Internacional espera metade disso e prevê 0,5%. É a mesma expectativa do Economist Intelligence Unit (EIU), braço do grupo The Economist que oferece análises econômicas para empresários do mundo todo.

Em uma palestra em dezembro, Robert Wood, vice-diretor de América Latina da EIU, foi direto: “Será um ano melhor que esse, mas isso não significa muita coisa”. No mercado, há tanto quem acredite em desempenho um pouco melhor como em números piores. 

A crise política do país, que traz reviravoltas dignas de Alfred Hitchcock semanalmente, complica a crise econômica. Mesmo em cenários mais estáveis, previsões lidam muito com o erro. Diante da complexidade do cenário brasileiro, é quase impossível dizer o que vai acontecer.

Para Wood, o mercado ainda oferece o benefício da dúvida ao governo atual e espera suas medidas para responder. “Vimos que as condições ainda são muito fracas, consumidores têm altos níveis de endividamento, o crédito não está fazendo seu papel de apoiar a demanda… Investidores viram que não era o momento certo”, disse sobre os resultados decepcionantes do 3º trimestre de 2016, quando a economia brasileira recuou 0,8%.

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“Os consumidores vão começar a reagir à inflação e juros mais baixos, mas a retomada precisará vir dos empresários e investidores. E muitas companhias ainda estão endividadas e aguardando condições mais fáceis de crédito”, continuou.

Além de crédito para pagar as contas, as empresas estão esperando sinais positivos do governo. “O empresário não sabe quanto vai ter que pagar”, explica Renan. “Então novos investimentos dependem do cenário macroeconômico e das reformas. Quanto mais tempo isso levar, mais demora para gerar emprego e empregar a capacidade ociosa.”

Mesmo retomando um ritmo saudável de crescimento econômico, a volta da oferta de emprego ainda é uma reação que demora um pouco mais para acontecer. Primeiro, o mercado aproveita como pode quem ainda está empregado, e só depois de se sentir seguro com a economia é que começam as contratações.   

Mailson da Nobrega
Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda [reprodução]

“Infelizmente, [o desemprego] tende a piorar nos próximos meses”, opina ao Na Prática o economista Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo Sarney – época em que ele e sua equipe enfrentaram a hiperinflação, um do mais graves e complicados momentos econômicos da história recente do Brasil. “O investimento gerador de empregos somente acontece quando há a convicção de que a recuperação não é um episódio passageiro. O desemprego tende a começar a diminuir a partir de meados do próximo ano”, continua.  

Para Maria Cristina Cacciamali, professora de economia política da América Latina e de estudos do trabalho e política pública da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), a recessão também não vai terminar tão cedo e as chances são de estabilidade ou piora no número de vagas disponíveis no mercado.

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“Estamos num momento muito explosivo, em que a crise econômica se sobrepõe à crise política. Até que as reformas sejam aprovadas, vamos permanecer com baixa atividade econômica e nenhum tipo de recuperação de investimentos – e, enquanto não vierem, mesmo que em pequena monta, é muito difícil acreditar na melhora”, fala. “A coisa está tão ruim que até os trabalhadores estão saindo do mercado.”

“A boa notícia é que a queda abrupta de vagas deve se estabilizar em 2017”, acrescenta Renan, que se preocupa com o número de jovens que deixou o ensino superior para trabalhar e ajudar a família ou perdeu financiamento dos estudos, aspectos da crise que ele considera especialmente “perversos”.

“Vamos ter que esperar mais um pouco por um novo ciclo de geração de empregos. Uma vez que passe a crise, no entanto, jovens que estudam agora ou se formam em breve vão sair na frente e encontrar um mercado um pouco mais fácil”, continua. Ele chama atenção para uma das consequências pouco discutidas da diminuição de jovens no ensino superior para quem pode continuar na faculdade: um mercado com menor concorrência.

De fato, segundo a Síntese de Indicadores Sociais do IBGE, a porcentagem de jovens que não estudavam e nem trabalhavam em 2015 foi maior que em 2014 – cresceu de 20% para 22,5%.

Quem está procurando emprego também já percebeu que os salários estão mais baixos. Pesquisa realizada pela Produtive Carreiras mostra que, entre maio e novembro de 2016, houve queda de 13% na média das remunerações oferecidas. Isso pode ser explicado, em partes, pela lei da oferta e demanda: como muitas pessoas foram demitidas com a crise, o mercado ficou com muita gente disponível e as empresas conseguem contratar por menos.

Por mais que os economistas prevejam no máximo a estagnação das vagas para 2017, os recrutadores das empresas contam outra história. Segundo relatório do LinkedIn sobre as tendências de recrutamento para o ano seguinte – feita a partir de 331 entrevistas com líderes corporativos em atração de talentos –, 40% dizem que o volume de contratações aumentará em 2017. O foco, ainda assim, será mais na qualidade do que na quantidade.

Mas, afinal de contas, o que todos esses números significam para o jovem hoje?

Invista em experiências em sua área

Embora potencializada pela intrincada situação política que vivemos, a crise brasileira também é influenciada por uma série de fatores, como uma economia baseada na exportação de commodities que perdeu muito com a desaceleração do crescimento da China – principal parceira comercial do país – e com a queda do preço do petróleo.

“O progresso lento de países dependentes de commodities em aumentar sua resiliência através da diversificação e seu absoluto fracasso em criar um ambiente favorável para a inovação florescer cria um ciclo negativo entre baixa competitividade, vulnerabilidade macroeconômica e baixa diversificação”, escreveu o Fórum Econômico Mundial em seu ranking global sobre a competitividade dos países. Em 2016, o Brasil, que já não estava bem, caiu seis posições naquele relatório anual e está em 81º entre 138 países.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) vê uma situação particularmente preocupante para jovens. Em seu relatório anual sobre tendências de empregabilidade, “World Employment Social Outlook Trends”, destaca que há três vezes mais desempregados jovens que adultos na América Latina e que cerca de 22 milhões de pessoas com entre 15 e 24 anos não trabalham nem estudam.

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[Gráfico da OIT]

“A falta de oportunidades de trabalho decentes disponíveis para esses jovens significa que muitos aceitam empregos informais ou vulneráveis”, escreve. A OIT estima que o número de desempregados no mundo suba em quase 4 milhões entre 2016 e 2017 – 700 mil deles brasileiros.

Segundo o IBGE, 11,4 milhões de pessoas já estavam desempregadas no país em junho de 2016, um índice de 10,4%. Especificamente entre jovens de 18 a 24 anos, o índice sobe para 24,1%, um dos mais altos níveis históricos.

Para o universitário brasileiro, o grande problema é ter currículo curto em uma competição acirrada.

“A mão de obra altamente qualificada não terá problemas de emprego, mas o jovem altamente qualificado tem um problema que é a falta de experiência”, diz Maria Cristina. “Digo sempre aos meus alunos para quem se preocupem com estágios e experiências profissionais ao longo da própria faculdade, criando um conjunto que o ajude a entrar no mercado.”

Num mercado em crise, encontrar as primeiras oportunidades remuneradas fica naturalmente mais difícil. E como é pouca vaga para muita gente, é fundamental ter foco para impressionar recrutadores.

“Lidar com isso exige dedicação ao estudo e a busca dos melhores cursos, o que também demanda adequada preparação. Não dá para contar com a sorte nem com indicações de amigos e parentes para ser competitivo no mercado de trabalho”, comenta Maílson.

Quais são os setores mais promissores?

Basta olhar pela janela para saber que o país não está absolutamente parado. Há alimentos no supermercado, gasolina nos postos, construções barulhentas e muita gente trabalhando. “E o setor de Tecnologia da Informação está indo muito bem”, fala Maria Cristina citando áreas de alta tecnologia, aplicação de software e produção de jogos como destaques.  

Defensora de uma economia com maiores índices de produtividade e competitividade internacional, ela diz que é preciso investir na indústria de transformação – que transforma matérias primas brutas para outras indústrias – e na criação de valor agregado para os produtos nacionais.

Para Maílson, em ambiente de alta competição como o atual se sairão melhor as empresas – industriais, comerciais, de serviços e do agronegócio – que se prepararem para conquistar capacidade de inovar e assim de ganhar níveis crescentes de eficiência, produtividade e competitividade. “Numa palavra, uma combinação de boa gestão com a atração de talentos de elevada qualificação”, resume o ex-Ministro.

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São também boas ideias para quem quer empreender. “Os empreendedores devem se fixar em setores de alta produtividade e fornecimento de serviços que possam aumentar a competitividade dos demais setores. Procurem soluções que possam impactar no menor custo”, aconselha a professora.

Renan aposta na elaboração de produtos voltados para classes específicas levando em conta a vontade de consumir e as faixas de renda reduzidas.

“Lembra da Havaianas, que era focada em baixa renda e remodelou sua marca para focar também em público de renda um pouco mais alta?”, pergunta. “O caminho que temos que seguir é o contrário: adaptar produtos para levar em consideração a concentração de renda, tanto nas classes A e B quanto C e D.”

Depois de 2017

Robert Wood, da EIU, destaca que a recuperação deve vir do mercado doméstico, mas tranquiliza os brasileiros em relação aos interesses externos: eles ainda existem. “Investidores estrangeiros ainda veem muitas oportunidades e, apesar das dificuldades do país, estão acompanhando as coisas de perto e pensando no longo prazo.”

Ele cita o novo marco para a exploração de pré-sal e a nova rodada de concessões de exploração de petróleo, que permitem que outras empresas além da Petrobras explorem as riquezas. Assinado pelo presidente Michel Temer em novembro, o marco – de olho em companhias estrangeiras – abre o campo e desobriga a Petrobras a participar de todas as atividades do pré-sal.

“Vimos uma resposta bastante boa na última rodada de concessões mexicana e há razão para acreditar que o cenário é suficientemente bom para atrair interesse ao Brasil”, disse Wood. E isso tem efeito cascata em toda a indústria de óleo e gás nacional, de refinarias à gestão ambiental e além.

E com a passagem da polêmica PEC do Teto pelo Senado, em 13 de dezembro, alguns cenários econômicos otimistas ganharam força. O Itaú Unibanco, por exemplo, estima que dentro desse cenário – se tudo caminhar nos conformes –, a economia pode crescer 4% em 2018.

“Não há nenhuma reforma que possa levantar a economia em curtíssimo prazo. Estamos ajustando as contas para poder crescer”, alerta Maria Cristina. “Vejo-as como positivas do ponto de vista da geração de expectativas do mercado. Vamos torcer para que os novos investimentos se concretizem.”

Para Maílson, a recuperação, além de lenta, também depende do resultados das próximas eleições. “Creio que a partir do segundo semestre de 2017, veremos uma recuperação continuada do mercado de trabalho e do emprego, podendo voltar aos níveis de 2013 por volta de 2023”, prevê. “O risco é acontecer a eleição de um aventureiro em 2018, que levaria a economia a outra crise grave de inflação, recessão e desemprego em poucos anos. Creio que é uma hipótese pouco provável, mas não impossível”, ele alerta.

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