Eduardo Vasconcellos na Capricorn

Em 2014, a consultoria Deloitte publicou um relatório sobre as preferências dos millennials, termo utilizado para descrever nascidos entre os anos 1980 e o começo dos anos 2000, aproximadamente. Questionados sobre o setor corporativo, 56% acham que ele pode fazer muito mais em relação à escassez de recursos, 55% em relação às mudanças climáticas e 49% em relação à desigualdade de renda. E 50% querem trabalhar para uma empresa com práticas éticas.

Eduardo Vasconcellos, engenheiro mecânico formado pela Escola Politécnica da USP e obteve seu MBA na Stanford Graduate School of Business, onde foi bolsista da Fundação Estudar – que está com inscrições abertas para seu Programa de Bolsas 2017.

Hoje o brasileiro atua como investment associate do Capricorn Investment Group, uma multibilionária empresa de investimentos americana que atua num nicho crescente: o de investimentos de impacto. Trata-se de uma modalidade preocupada com todos os fatores citados acima e outros, como saúde e educação, sem abrir mão do retorno financeiro.

Fundado por Jeff Skoll (ex-presidente do eBay que também é fundador da Skoll Foundation), a firma tem sede em Palo Alto, próximo ao Vale do Silício e à Universidade Stanford, e um escritório em Nova York, onde Eduardo trabalha com outras vinte e oito pessoas.

A conexão com o Vale do Silício é um ponto de destaque. Considerado pólo de inovação mundial, é de lá que saem muitas oportunidades interessantes de investimentos com potencial futuro, que aliam impacto e tecnologia.

É onde ficam, por exemplo, as três empresas do bilionário Elon Musk: a fabricante de foguetes SpaceX, a fabricante de carros elétricos Tesla e a fabricante de placas solares da SolarCity. O Capricorn investiu em todas, aplicando a lógica do retorno a longo prazo e apostando tanto na exploração espacial quanto na necessidade de encontrar novas fontes de energia. 

elon musk apresentando o projeto space x
Elon Musk apresenta a cápsula Dragon, da SpaceX, capaz de levar carga e seres humanos para o espaço [reprodução]

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“Estamos transitando para um capitalismo sustentável e existem enormes oportunidades de investimento nas mais diversas indústrias para financiar esta transição”, explica Eduardo. “O Capricorn acredita que as empresas que incorporarem preocupações com os principais desafios da sociedade em seus modelos de negócio serão as empresas vencedoras no futuro.”

O Fórum Econômico Mundial, que mantém uma iniciativa contínua para debater o assunto e estima que o setor tenha atualmente US$ 46 bilhões, concorda. Em seus relatórios anuais, reitera que investidores que apostam de maneira informada em investimentos de impacto terão vantagens competitivas num futuro relativamente próximo.

“As noções tradicionais de criação de valor seguidas por investidores e pela sociedade vão ser alteradas pela demanda crescente de consumidores por produtos com valor social em mercados desenvolvidos, pela necessidade de inclusão social para apoiar crescimento em mercados em desenvolvimento e pela escassez projetada de recursos naturais”, escreveu a instituição. “Investimento de impacto é uma abordagem adequada para aproveitar essas tendências.”

Dia a dia na Capricorn

Eduardo passou por um processo seletivo de quase seis meses. Precisou resolver cases de investimento, apresenta-los para altos executivos em Nova York,e mostrar que estava alinhado com os valores da empresa, que incluem coragem, integridade e enlightened self-interest, ou interesse próprio esclarecido.

Hoje pesquisa e identifica oportunidades de investimento incorporando os processos de sustentabilidade que informam a filosofia da Capricorn em suas análises. “Ter um capital permanente é muito importante no mercado financeiro e aqui posso me dar ao luxo de fazer coisas que vão demorar mais tempo para dar retorno, que são visionárias”, empolga-se. 

Um exemplo: para ser sustentável, uma empresa competitiva do setor energético precisa ter fontes de energia renovável que não tenham data para terminar, o que não é o caso do carvão ou do petróleo. Quem tiver no radar tais desafios sairá ganhando no médio e longo prazo em seus setores – e se tornará o melhor investimento.  

Todos aqui têm como profissão serem um pouco detetives e são curiosos intelectualmente, querem fazer um monte de perguntas

A habilidade de enxergar vários passos a frente é, aliás, um dos princípios do investimento de impacto. É preciso, nas palavras de Eduardo, olhar os problemas com um microscópio. Ao tomar decisões com bases sólidas, além de ajudar o mercado a se desenvolver fornecendo capital para uma empresa capaz de mudá-lo, o investidor colhe os frutos financeiros do crescimento no futuro.

Para não perder de vista o objetivo principal da empresa – lucrar para seus clientes –, Eduardo diz que é preciso exercer muita disciplina na hora de decidir o preço certo. “É preciso comprar no preço adequado e entender quando as empresas estão sendo avaliadas de maneira irreal”, diz. 

Ele destaca também a importância da sinceridade no mercado financeiro. “Não tem como se esconder num trabalho com investimentos”, explica. “Todos aqui têm como profissão serem um pouco detetives e são curiosos intelectualmente, querem fazer um monte de perguntas. Então se você não sabe algo, melhor admitir. Basta esconder uma coisa só e alguém descobrir que sua reputação vai para o buraco.”

Ferramentas 

Eduardo se interessou pelo setor financeiro ainda na faculdade, quando se destacou no Desafio Santander de Empreendedorismo com uma empresa de marketing digital. Na etapa nacional, onde ganhou menção honrosa por ser o único graduando entre os indicados, entrou em contato com os primeiros venture capitalists, ou VCs, profissionais que lidam com capital de risco e empreendedores.

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“Com eles, entendi que o mercado financeiro tinha uma série de ferramentas muito poderosas”, lembra. “Seria possível desenvolver uma carreira com essas ferramentas e também gerar impacto positivo no mundo? Isso virou um pouco meu mantra.”

Formou-se na USP em 2008 e, um ano depois, criou com colegas a Amigos da Poli, primeiro fundo de endowment de uma universidade brasileira. Começou a funcionar para valer dois anos depois. Eduardo, que então já trabalhava como analista no mercado financeiro, atuou como seu presidente por quatro anos e era o responsável por captar recursos.

Hoje o endowment ultrapassa R$ 8 milhões e financia projetos que possam ter um impacto positivo na instituição mas que ela não tem como bancar. Um dos primeiros foi uma parceria entre Poli e Stanford, quando o professor Eduardo Zancul levou uma turma de alunos para estudar design thinking por lá e depois trouxe a disciplina para São Paulo. 

Por ser pioneira, a iniciativa enfrentou certa desconfiança no começo. “Queríamos ser uma ponte entre empresários e professores da USP e foi preciso vender o peixe e convencer as pessoas de que era possível”, lembra. 

Parte da missão também era inspiracional e o estatuto da Amigos da Poli circulava livremente num arquivo de Word, pronto para ser adaptado por outros universitários, como fizeram os estudantes da Fundação Getúlio Vargas. “Temos que ver o que existe nas economias do mundo e o que podemos trazer e tropicalizar por aqui”, resume. “Precisamos nos propor a fazer coisas novas e deixar esse complexo de vira-lata.”

Direto da fonte 

Empolgado com os resultados e com as possibilidades do mercado financeiro, Eduardo começou a pensar em se aprofundar e ter sua primeira experiência internacional. Foi automaticamente atraído por Stanford e sua proximidade ao Vale do Silício. “Só quis fechar o ciclo na Amigos da Poli antes, porque é importante fechá-los antes de dar o próximo passo e os processos seletivos exigem passos concretos – o da Fundação Estudar ainda mais que Stanford”, ri. 

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Eduardo Vasconcellos em Stanford
[acervo pessoal]

Nos EUA desde 2014, aproveitou ao máximo o modelo de MBA de Stanford, que envolve aulas ministradas por uma dupla composta por um profissional do mercado e um professor universitário. “Em nossas aulas sobre fusões e aquisições, por exemplo, quem ia era a CEO da Oracle e um professor com anos de experiência em pesquisas na área”, exemplifica. “Ter os dois na sala ao mesmo tempo é uma coisa única e por três horas em sala eles mergulhavam de cabeça. Ela desligava o celular e se comprometia de verdade.”

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Na universidade, ele aproveitou para testar as águas em outro país. Cocriou o Stanford GSB Impact Fund, entidade no formato de fundo que tinha US$ 180 mil para investir em produtos que tivessem um impacto positivo na sociedade. “Foi muito interessante estar pela primeira vez gerenciado pessoas, porque ter cinco estudantes de MBA de Stanford esperando orientações não é fácil”, diverte-se. 

Ao fim de seus dois anos em Stanford, em 2016, encontrou o anúncio da Capricorn no site da universidade. Tem certeza que o diploma foi decisivo para conseguir a vaga. “Se você quiser fazer qualquer tipo de transição, seja geográfica ou de indústria, o MBA te ajuda muito”, diz. “E Stanford abre portas, mas não se engane: suas experiências passadas fazem uma grande diferença também. Ela consegue sua primeira entrevista, mas a segunda é contigo.”

Futuro 

Eduardo pretende ficar Estados Unidos pelos próximos anos, aprendendo mais sobre o meio e observando as mudanças acontecerem. (Engenheiros com conhecimentos sobre carros autônomos, aliás, são sua dica de carreira da vez.)

Empolga-se principalmente com a possibilidade de ser pioneiro. Quer encontrar e investir em tendências ainda não identificadas pela maioria das pessoas, desenvolver cada vez mais sua visão holística e, se possível, destravar uma indústria inteira. “Quero ser o principal capital de uma empresa e vê-la se tornar líder do setor”, diz.

É um sonho que, se tudo der certo, será cada vez mais competitivo conforme novos players se interessem por investimentos de impacto. E o futuro do setor volta às preferências dos jovens citadas no primeiro parágrafo, já que se estima que a transferência de renda para os millennials vá somar cerca de US$ 41 trilhões nas próximas décadas.

“Essa mudança de paradigma vai fazer o setor crescer muito – e ter sido um pioneiro vai ser altamente recompensador”, conclui o brasileiro. E quem vai querer perder tantos clientes?

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