“Você precisa se informar e se preparar muito”, diz Armando Zurzolo, pragmático em relação às dicas para quem quer passar no processo seletivo de uma grande consultoria. Para ele, dedicação é essencial.

Enquanto cursava Engenharia de Produção na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), Armando foi aprovado em 2014 no programa de estágio do The Boston Consulting Group (BCG), uma das mais tradicionais consultorias internacionais, ao lado da McKinsey, Bain, A. T. Kearney, Kaiser Associates, das brasileiras Integration e FALCONI, entre outras. Em comum, todas elas são conhecidas por recrutamentos rigorosos e disputados.

“É um processo seletivo bastante peculiar, baseado em case interviews [resolução de cases de negócios] e testes similares ao GMAT [exame de lógica utilizado na admissão em pós-graduação], o que justifica essa preparação intensa do candidato”, explica Armando.

“Sou um ponto fora da curva, fiz mais de 1500 exercícios de GMAT e resolvi mais de 100 cases com os amigos no consulting club antes do recrutamento”, ele admite. Vale lembrar que os processos seletivos normalmente ocorrem no começo de cada semestre.

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Clubes de consultoria

Como parte de sua preparação, Armando também foi coordenador do consulting club de sua cidade. Os consulting clubs, ou clubes de consultoria, são grupos de estudo formados pelos próprios alunos que têm interesse em seguir carreira nessa área e se propõem a treinar em equipe a resolução de cases.

“Os consulting clubs são muito importantes em toda preparação para entrar em uma consultoria. Por meio deles, os alunos que estão passando por um mesmo momento conseguem trocar informações sobre os processos seletivos e se ajudam no treino de casos”, explica Bárbara Borges, aluna de Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Ela participou do consulting club de sua faculdade e hoje é estagiária na Integration.

“O que eu mais percebi é que surge um clima bem legal de colaboração entre as pessoas que fazem parte desses grupos, o que é importante, já que no ambiente de consultoria as pessoas têm que trabalhar mais em conjunto umas com as outras do que em competição”, completa Bárbara.

“O clube acaba assumindo a missão de qualificar os alunos para a área de consultorias utilizando-se de projetos e debates pouco explorados em salas de aula”, opina Lucas Eduardo Assis, diretor de relações institucionais do consulting club da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

De fato, nem sempre a faculdade prepara o aluno para a resolução de casos. “No consulting club, o primeiro caso que eu fiz foi um desastre”, reconhece Lucas. “Para mim, resolver cases também é uma questão de hábito, de se forçar a pensar daquela maneira, de se acostumar a estruturar um problema”, ele completa.

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Processo seletivo

Por outro lado, em algumas instituições, os clubes já são mais estruturados e vão além da resolução conjunta de cases. É o caso da FEA, por exemplo, onde o clube de consultoria também promove eventos públicos com consultores, para apresentar tanto a carreira, como a expertise de cada consultoria, e até simulações de todas as etapas do processo seletivo com recrutadores das próprias empresas. “Convidamos as grandes consultorias estratégicas para que cada uma delas aplique uma etapa dessa simulação, permitindo que verdadeiros avaliadores de diferentes instituições examinem os participantes”, explica Lucas.

No consulting club da FEA, os grupos de estudo também são abertos ao público, mas existem atividades exclusivas para membros do clube, que passam por um processo seletivo. É o caso dos case dives, resoluções de casos que ocorrem com a participação de profissionais do mercado. “Nosso objetivo é reproduzir, ainda que em pequena escala, os métodos utilizados em projetos originais de consultorias”, esclarece Lucas.

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Alternativas

Se a sua faculdade ainda não possui um consulting club, por que não começar um? “Junte os seus amigos ou conhecidos que também estão interessados em consultoria, e vocês já podem começar a se preparar juntos, buscando informações, tentando entrar em contato com veteranos que são consultores, pesquisando sobre cada empresa”, recomenda Lucas.

Segundo ele, também vale também entrar em contato com algum clube de consultoria mais tradicional e pedir para ser adicionado à lista de emails, para poder acompanhar o conteúdo que circula por lá e ter acesso a materiais muito úteis.

Para treinar para os testes do GMAT, existem diversas apostilas disponíveis no mercado e nas bibliotecas das faculdades. Jun Tomida, associate no BCG, chama atenção para a importância de praticar essa etapa.

“É uma prova de lógica bem diferente da que estamos acostumados a ver na faculdade. No curso de engenharia, eu gastava horas com cada questão, mas nesse exame é exatamente o oposto. São menos de dois minutos para cada pergunta”, explica Jun. Para ele, o sucesso na prova também envolve a habilidade de entender quais perguntas você vai conseguir responder em tempo hábil, e quais faz sentido pular. “São questões que exigem raciocínio lógico, e não contas pesadas”, ele adianta.

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Já na parte de resolução de cases, também existem alguns livros que podem ajudar, como o Case in Point: Complete Case Interview Preparation, e materiais de MBA – mas que não substituem a mão na massa. “O mais importante não é ler, é resolver mesmo, praticar várias vezes para ganhar experiência”, explica Armando.

Se participar de um consulting club ou reunir os amigos não está entre as opções, ainda existem outras saídas, como resoluções por Skype ou Google Hangout com pessoas que moram longe, ou até mesmo o Prep Lounge, um site que promove a conexão entre estudantes de todo o mundo que estão se preparando para consultoria.

“Uma pessoa que te acompanha durante esse processo é capaz de te passar feedbacks sobre onde melhorar, coisas que você não seria capaz de perceber sozinho. Ao mesmo tempo, ao assistir você desenvolver um caso, ela também consegue absorver boas práticas e perceber erros que não deveria cometer”, explica Bárbara. “Acredito que treinar cases com alguém seja proveitoso para as duas partes. Foram longas tardes e noites treinando para as case interviews para que eu tivesse um bom desempenho nos processos seletivos”, conclui.

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