Equipe trabalhando em estúdio de filme
3film

O Draft – projeto editorial dedicado a cobrir a expansão da inovação disruptiva no Brasil – convidou Rapha Erichsen, um dos diretores da 3Film, para refletir sobre o caminho das pedras (e os jeitos de torná-lo menos pedregoso…) para talentos audiovisuais que sonham ter uma produtora independente – e sobreviver com ela. Confira o resultado:

O mercado audiovisual brasileiro está passando por uma revolução. Seja por mudança na legislação, como a Lei da TV Paga, que cria demanda por 1.070 horas anuais de conteúdos nacionais e independentes inéditos na programação das emissoras, seja pelo acesso fácil e pelos incríveis resultados conseguidos com pequenas câmeras DSLR (sigla em inglês para digital single-lens reflex).

Parece tudo muito bom e divertido. Você reúne um grupo de amigos criativos e talentosos, juntam suas Go-Pros e DSLRs, abrem uma conta no Vimeo, acham um nome bacana, baixam um Final Cut pirata e pronto – agora você é dono de uma produtora audiovisual independente. E pode ser só isso mesmo, se você quiser se divertir muito.

Agora, se você quiser fazer isso pelo resto da vida, se essa é sua paixão e o seu caminho profissional, e, sobretudo, se você quiser fazer disso uma carreira, e se quiser viver disso, o buraco é bem mais embaixo.

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A produção de filmes e a legislação

Há milhares de produtoras hoje no país buscando seu lugar ao sol – ou pelo menos seu nicho de mercado. E é preciso muito murro em ponta de faca para sobreviver como uma empresa nesse ramo.

A Lei da TV Paga (Lei 12 485, que entrou em vigor em 12 de setembro de 2011), é realmente um marco que pode revolucionar todo o mercado audiovisual brasileiro. E a própria Lei cita “produto qualificado inédito produzido por produtora independente”. Ou seja: estão falando da gente!

Mas lembre que a legislação vale também para grandes produtoras que também são consideradas independentes – como a O2, a Conspiração e pasmem, até a Globo Filmes. Enquanto nós, pequenos produtores, nos esfolamos para desenvolver um projeto, essas grandes empresas, que já tem relacionamento antigo com as emissoras, estão desenvolvendo centenas deles. E esses projetos provavelmente vão chegar às mesas dos commission editors dos canais pagos antes do seu projeto ou do meu.

Estamos vivendo um momento de transição nesse mercado. As empresas estão se organizando numa nova ordem. Se existe espaço para todos, o tempo vai dizer. Apesar de tudo, acredito que ainda haja muito espaço a ser ocupado. Com bastante trabalho, você poderá encontrar o seu.

Aproveitei esse convite do Draft para olhar os três anos de atividades da 3Film pelo retrovisor. Para enxergar os erros (que não foram poucos) e acertos que cometemos. E para fazer uma breve lista de pequenas dicas que podem lhe ajudar a desenvolver o seu negócio. Acredito que uma produtora precisa de muito mais do que esses primeiros passos para se manter viva e ativa. Então, se você quiser me mandar suas dicas, ou melhorar ou discordar das minhas, será muito bacana. Para tentarmos descobrir, juntos, como não sobrar de vítima nesse mercado em ebulição.

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1. Experimente e diversifique

Encontrar o seu nicho é bom, mas de modo geral são os generalistas e adaptáveis que sobrevivem. É importante saber que tipo de filmes você quer fazer: campanhas publicitárias? Conteúdo áudio-visual para marcas? Séries de TV? Mas é fundamental se manter aberto e alerta. Nós já tentamos de tudo um pouco e o caminho da diversidade é o que trilhamos hoje. Não se limite. As possibilidades são muitas e focar em uma só delas pode até ser estratégico se você tem capital de giro para encarar o desafio de seguir sem trabalho até engatar uma série de projetos. Do contrário você vai ter que vender sua 5d de estimação para pagar o almoço.

2. Faça com o coração – mas não esqueça de que você está ao vivo

É importante fazer o que te dá tesão. Mas não esqueça que o mercado está enxergando o que você está fazendo. O que para você pode ser só o video da banda do seu melhor amigo para o mercado é uma amostra do seu trabalho. Não tem treino – só jogo valendo três pontos. Procure fazer com que seus filmes tenham uma intenção e que isso seja perceptível, que isso se consolide num estilo que dê cara à sua produtora – mesmo que seja um vídeo do aniversário de um ano do seu sobrinho.

3. Não comemore antes da hora

Você fez um vídeo com o coração, as pessoas gostaram, viralizou. Dez mil, 100 mil, 200 mil views. Ótimo! Mas não pense que só por causa disso seu telefone vai tocar no dia seguinte: ele não vai. As pessoas vão estar ocupadas demais assistindo o próximo video lindo feito com o coração e que viralizou logo depois do seu. Mas não desanime: é essa coleção de hits que você vai botar debaixo do braço e sair por aí mostrando para o mundo que vai abrir portas. Em termos de negócios, cada vídeo que você faz é um case que você está criando.

4. Não tire a mão do leme – ou a correnteza te leva

Você quer ser um prestador de serviço ou um gerador de conteúdo independente? Ou você quer fazer as duas coisas? Há espaço para tudo, desde que você saiba operar com os diferentes chapéus. Muitas vezes você começa a fazer um trabalho, ele fica bom, te chamam para fazer outro e, quando você percebe, virou uma produtora que faz tutoriais de beleza infantil (foi o que quase aconteceu com a gente). Muito sem querer. Avalie o caminho a que seus trabalhos estão lhe levando e realinhe a rota cada vez que o mercado lhe puxar na direção contraria dos seus planos. Ou então contraponha esses trabalhos que lhe são demandados com uma quantidade equivalentes de trabalhos que dêem a sua produtora a identidade que você deseja. Ter uma produtora é como ter uma banda, você tem que fazer covers e tocar o que a galera pede – mas não pode deixar de compor e apresentar suas próprias músicas, se isso for uma meta para você.

5. Rejeite a rejeição

Esse mercado é cruel e muitas vezes criamos expectativas em projetos ou filmes que não tem a performance ou a repercussão que desejávamos. Muitas vezes você faz um filme incrível e ele passa despercebido – ou quem poderia fazer um comentário construtivo prefere silenciar ou então malhar. Não se deixe abalar, isso ainda vai acontecer muitas vezes. A melhor maneira de lidar com a rejeição é rejeitá-la.

6. Aprenda a dizer “não”

Quando você tem uma produtora pequena, para cada trabalho que você pega, você está deixando de fazer outra coisa – mesmo que essa coisa seja escrever os projetos incubados dentro da própria empresa e que vão demorar a serem captados. Uma produtora deve ter muitos projetos em andamento, e isso demanda tempo e energia. Seja objetivo para definir os projetos nos quais você acredita e invista seu tempo neles. Não perca tempo com outros de menor interesse. Seja também estratégico nos projetos que você escolhe fazer para os outros. Analise se eles são capazes de alavancar outros trabalhos ou se eles se encerram neles mesmo. Ou se podem virar cases para um mercado que você pretende atacar. Se ele não servir estrategicamente, diga não.

7. Construa a personalidade da sua produtora

O audiovisual tem um poder transformador incrível e você tem uma ferramenta poderosíssima nas mãos. Nós encontramos, em algumas causas, oportunidades de nos comunicarmos. Criamos a campanha Repense e colaboramos com a ONG Énóis criando uma escola de jornalismos virtual. Esses cases foram importantíssimos na construção da personalidade da produtora. O telefone não tocou no dia seguinte por causa deles. Mas as pessoas ficaram muito mais abertas a nos ouvirem. Descubra projetos que façam as pessoas sorrirem e que lhe cause orgulho.

8. Envolva as pessoas

Não é porque hoje você pode fazer um monte de coisas que você deve fazer as coisas sozinho. Conecte-se! Com outras produtoras, com pessoas da sua área, com pessoas de outras áreas. O audiovisual é um mercado tão vasto que você pode criar com pessoas ou empresas de qualquer área. Nesse caso, menos é menos mesmo. Compartilhe, circule, amplie. E boa sorte. O céu é o limite!

3Film é uma produtora de documentários e conteúdo audiovisual paulistana, que completou três anos em 2014. É a responsável pela campanha Repense, o longa-metragem Ilegal, e pelo premiado filme Radical: a controversa saga de Dadá Figueiredo, em parceria com a Vans. Em 2012 realizou com o Multishow a série Rally Mongol, que acompanhou quatro amigos indo de carro de Londres até a Mongólia. Além disso, é responsável pelas web-séries Capricho College, para revista Capricho, e Por dentro da Tecnologia, para a Petrobrás. Segue a todo vapor em 2015.

Este artigo foi originalmente publicado na plataforma de conteúdo Draft.

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