Pedestres na Avenida Paulista

Um novo conjunto de ambições e desejos vai moldar o século 21. Essa é a conclusão do relatório “Motivated by Impact”, escrito em 2016 pela Economist Intelligence Unit (EIU), braço de pesquisas do grupo The Economist.

A raiz da mudança são os millennials, os cerca de 1,8 bilhão de jovens nascidos entre 1980 e o começo dos anos 2000.

Estudos indicam que esta é a geração mais inteligente da história, graças à nutrição aprimorada e ao acesso ampliado à educação. Também deve viver mais que as outras –a expectativa de vida nunca foi tão alta – e herdará nas próximas décadas cerca de US$ 30 trilhões de dólares, outro recorde histórico.

Segundo a EIU, 56% dos millennials dizem que nunca trabalhariam para uma empresa se não acreditassem em seus valores. Outros 87%, de 29 países diferentes, acreditam que sucesso nos negócios não é apenas sua performance financeira. E 93% acreditam que impacto social é ponto-chave na hora de tomar decisões de investimentos.

Agora adultos e ascendendo em suas carreiras, os millennials trazem consigo a vontade de unir trabalho, valores e propósito – e esse impacto será sentido tanto no mundo dos negócios quanto na sociedade como um todo.

Millennials como líderes

Não é incomum que, ao assumir uma liderança, alguém mude processos, equipes, filosofias ou ambientes para que estejam em sincronia com seu estilo.

Esse é um fator significativo quando se trata da próxima geração de líderes corporativos: só na Europa e no Oriente Médio, 80% deles querem ter um estilo de liderança diferente de seus antecessores.

Mais abertos ao diálogo e à troca de ideias e informações, os millennials testarão essa capacidade de liderar em breve: estima-se que 40% dos negócios familiares troquem de mãos já nos próximos cinco anos.

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Badr Jafar, membro da segunda geração da Crescent Enterprises, uma empresa dos Emirados Árabes que lida com óleo, gás natural e mercado financeiro, disse à EIU que a questão vai além da transformação estrutural.

“Há uma mudança cultural e geracional em relação a entender qual é o maior propósito de um negócio”, falou. “Acho que agora há uma apreciação mais autêntica por trás da criação de valor que vem do foco no impacto social, além da saúde financeira.”

Faz sentido. Afinal, escrevem os autores do relatório, três quartos dos jovens acreditam que empresas têm um impacto social positivo.

Novos tipos de negócios

Uma inovação corporativa que ganhou força com os millennials são os negócios sociais, empreitadas financeiramente sustentáveis que reinvestem seus lucros em si mesmas e usam princípios de negócios para resolver problemas sociais ou ambientais.

Alice Freitas, uma das cofundadoras da Rede Asta, um e-commerce de artesanato feito por mulheres brasileiras em projetos sociais, considera seu trabalho um potencial legado para a sociedade e um estilo de vida.

“Não faz sentido ganhar setenta vezes mais que aquela pessoa que você apoia ganha”, resume. “Optamos por uma vida simples e por viver com o suficiente.”

Do outro lado estão altos executivos do Vale do Silício, jovens extremamente ricos que buscam o lucro (frequentemente bilionário) mas não querem abrir mão de seus valores no processo.

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Um exemplo oferecido pelo relatório é o movimento Pledge 1%, um novo jeito de enxergar a filantropia corporativa. Mais de 700 empresas são atualmente comprometidas com dedicar 1% do capital, 1% do tempo da equipe e 1% de seus produtos para suas comunidades.

Scott Farquhar, cofundador da bilionária empresa de software Atlassian, foi um criadores da ideia. “O modelo antigo de fazer negócios era trabalhar duro a vida inteira e então fazer algo bom para o mundo”, contou à EIU. “Mas a Geração Y [millennials que nasceram entre 1980 e 1990] quer misturar trabalho e diversão, quer que tudo aconteça junto, e o mesmo se aplica à filantropia.”

Essa vontade fez com que a adesão ao movimento se tornasse uma das três principais razões que atraem jovens talentos à Atlassian.

“Ter uma ótima cultura empresarial permite que você atraia ótimas pessoas”, disse ele, que espera que esse tipo de compromisso eventualmente seja associado aos contratos sociais de uma empresa desde o começo.

Investimentos de impacto

Empresas que unem grandes lucros e impacto social também existem. A classificação mais famosa é a da B Corporation, ou empresas B, que exige que as firmas passem por um longo processo de avaliação e comprometimento social e ambiental antes de ganhar seu selo.

Atualmente, mais de 1900 empresas de cinquenta países estão cadastradas, entre elas gigantes como Natura, Etsy e Ben & Jerry’s. Outras, como Unilever, estão em processo de adequação.

Há também fundos de investimento entre elas que praticam uma modalidade conhecida como investimentos de impacto, que visa ter tanto retornos financeiros quanto sociais ou ambientais, que podem ser medidos com diversas ferramentas.

Dois exemplos bilionários de empresas B são o Generation Investment Management, do ex-vice presidente americano e ativista ambiental Al Gore, e o Capricorn Investment Group, de Jeffrey Skoll, ex-presidente do eBay.

Grandes bancos como BlackRock e Goldman Sachs também já atuam nesse mercado – assim como o Vaticano, que em junho de 2016 organizou sua segunda Conferência de Investimentos de Impacto.

No fim de 2015, 156 investidores disseram estar administrando US$ 77,4 bilhões em investimentos de impacto. E isso é enquanto os trilhões de dólares que os millennials herdarão não chegam. (Quem já dispõe de grandes somas investe principalmente em igualdade de gênero, acesso à água, meio ambiente e educação.)

“Cinquenta e oito por cento dos baby boomers [nascidos entre 1946 e 1964] dizem que impacto social e ambiental é importante para seus investimentos”, explicou Jackie VanderBrug, do banco US Trust, ao Financial Times. “Noventa e três por cento dos millennials dizem isso. Na verdade, millennials estão começando a perguntar: ‘por que você ainda me faz essa pergunta?’”

Eduardo Vasconcellos, ex-bolsista da Fundação Estudar, trabalha no Capricorn Investment Group pesquisando oportunidades de investimento aliadas aos processos de sustentabilidade exigidos pela firma, que visa principalmente retorno no longo prazo.

“É preciso ter disciplina para comprar no preço adequado e entender quando as empresas estão sendo avaliadas de maneira irreal”, resumiu sobre o trabalho, que exige muito pensamento estratégico – às vezes sobre mercados que ainda não existem direito.

David Hutchinson, chefe da ONG britânica Social Finance, que estrutura esse tipo de acordo, diz que os investimentos de impacto atraem muitas pessoas que já se envolveram com filantropia antes, mas sentiam falta de impactos claros e mensuráveis no papel.

“E notei que alguns investidores que trabalham com diversas tipos de investimento falam mais sobre seus investimentos de impacto”, continuou. “É do que eles têm mais orgulho.”

É empregando o mesmo sentimento que Thomas Woolf, jovem fundador da EdAid, uma startup que oferece empréstimos estudantis mais baratos através de um sistema peer-2-peer, descreve essa grande mudança no jeito de fazer (e encarar) negócios.

“Se você puder ligar para sua mãe e tiver orgulho em contar o que fez a cada dia, então está provavelmente executando um negócio decente.”

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